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Políticas identitárias e psicanálise

Políticas identitárias e psicanálise

O psicanalista bem como as instituições às quais ele está ligado, estão inseridos na sociedade, e desta forma, ambos estão permeáveis a discussões de cunho político, sociológico, antropológico, científico, etc. Essa permeabilidade ou cesura é como uma pele: precisa permitir que o corpo entre em contato com o meio que o rodeia, o proteja, indique se está calor ou frio etc., mantendo a integridade do corpo.

Na última década vemos um acirramento de discussões políticas no campo social que acabam afetando e demandando das Sociedades e Instituições Psicanalíticas um posicionamento. Muitas vezes somos demandados por questões que nunca havíamos pensado, e que no sentido bioniano do termo, nos exige um aprender da experiência, um pensar sobre algo que muitas vezes esteve sempre presente.

A EPP-Escola Paulista de Psicanálise e o Instituto Ékatus possuem um programa de atendimento em psicanálise e às vezes somos demandados por pedidos de analistas pretos (essa é palavra usada nos formulários de inscrição do programa), LGBTQI+, cristãos, héteros, etc. Nesse ponto faz-se necessário uma profunda reflexão sobre o que é ser um psicanalista.

O psicanalista é uma pessoa que tem como ofício a psicanálise. Nesse ofício um ser humano oferece um espaço de escuta e oportunidade de crescimento para outro ser humano. Se explora aquela emoção não nomeada, se buscam novos significados para as experiências emocionais, se busca um mundo emocional cada vez mais complexo, com aumento da liberdade e a possibilidade de ir sendo si mesmo.

Nesse ofício o psicanalista não tem sexo, idade, orientação sexual, cor, cheiro, preferências políticas. A pessoa do psicanalista sim, o psicanalista não. Assim como o paciente. Uma ideia em circulação é que caso a pessoa do psicanalista seja gay ou cristã ele estaria mais capacitado para escutar o sofrimento da pessoa do paciente gay ou cristão. Se assim o fosse, somente homens poderiam ser psicanalistas de homens, mulheres de mulheres, pessoas de 30 anos de pessoas de 30 anos. Nada disso é garantia de uma melhor escuta psicanalítica: é como se mulheres não pudessem ser machistas, gays homofóbicos etc.  O preconceito é mais democrático do que a sabedoria.

Essa forma de uso da ideia de políticas identitárias é falsa a partir do vértice psicanalítico na opinião dessa instituição – quanto mais identificado o analista com seu paciente, pior para o processo psicanalítico. Esse é um dos principais fatores de contratransferência, ou pontos cegos do analista e que levam ao fracasso de uma análise.

A pessoa do psicanalista é um profissional treinado para o exercício da sua tarefa. Não está impermeável a preconceitos, posicionamentos religiosos, políticos, sociológicos, econômicos etc. Mas ele tem dois dispositivos para cuidar desses aspectos: análise pessoal e supervisões contínuas.

Também é fato que o próprio movimento psicanalítico já usou de forma preconceituosa as teorias psicanalíticas: durante décadas pessoas LGBTQIA+ foram impedidas de serem analistas por diversas sociedades psicanalíticas. Ainda hoje não é difícil encontrar um analista que classifique como psicótico qualquer pessoa que se identifique como “trans”. Mas a própria psicanálise e o movimento psicanalítico têm seus recursos para trabalhar esses pontos contra-transferenciais - o tripé psicanalítico: análise pessoal, estudo constante e supervisão. 

Frente ao exposto a EPP-Escola Paulista de Psicanálise e o Instituto Ékatus têm alguns posicionamentos, a saber:

- Não monitoramos ou questionamos nossos alunos e membros quanto à sua sexualidade, orientação sexual, crenças pessoais, posicionamentos políticos, cor etc. São assuntos de fórum pessoal a serem tratados em suas respectivas análises;

- Não divulgamos fotos dos membros ou alunos, para que justamente sua aparência não seja usada de forma preconceituosa – todos aqui somos psicanalistas!

- Buscamos oferecer sempre uma formação de excelência, para que o profissional aqui formado seja capaz de manter uma escuta psicanalítica, e esteja sempre cuidando de sua contratransferência. Em outras palavras, mantemos o tripé psicanalítico vivo, que consideramos até o momento o único instrumento capaz de fazer frente as demandas sociais.

Entendemos que possam existir preferências por parte dos pacientes acerca do profissional que irá atendê-lo (sexo, orientação sexual, cor, religião, etc.), mas em nosso programa de atendimento em psicanálise, não serão atendidos tais pedidos. O único critério utilizado nesse programa é a compatibilidade de horários entre analista e paciente.

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EPP- Escola Paulista de Psicanálise e Instituto Ékatus