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Da teoria para o infinito

Por Fernanda Dias Belo - 

O pensamento filosófico foi o motor que desafiou a humanidade a sair da caverna platônica, superar o medo infligido pela cultura e pela religião, e buscar construir um saber racional e sistemático. E foi a mesma filosofia, que mais tarde, influenciou fortemente na formulação da teoria Freudiana, que surge propondo um novo olhar, e uma nova metodologia para tratar os então “doentes dos nervos”, que desafiavam o saber médico, com sua cadeia de sintomas, e o escasso retorno das terapêuticas aplicadas.

De origem médica, foi dentro do pensamento e da lógica da medicina, que a psicanálise modelou suas primeiras balizas. Logo, no seu vocabulário teórico Freud faz uso de dois termos correntes; sintoma e cura. Que fundamentam, e se justificam na ideia inicial da psicanálise; solucionar os males físicos manifesto pelas histéricas. Emmy Von N, Dora, Elisabeth Von R. Estão entre os casos clínicos que demonstram o direcionamento da técnica empregada por Freud, que foi sendo desenvolvida em concomitância com suas formulações teóricas, almejando encontrar a causa dos sintomas e solucionar a doença.

Indubitavelmente, a epistemologia de Freud, admite uma dinâmica psíquica de caráter objetivo, ou seja, daquilo que de fato existe, e afeta a todos os indivíduos. O complexo de édipo por exemplo, é um dos componentes das fases psicossexuais do desenvolvimento infantil, pela qual, atravessam todas crianças. Assim como a castração. Desse modo, são os recursos empregados pelo ego, e sua capacidade para tolerar as frustrações inerentes a tais processos e etapas, que determinam a constituição e a qualidade mental e relacional da vida adulta. Portanto, a construção a ser feita e a trajetória a ser seguida pela psicanálise de abordagem Freudiana, estão dadas e são conhecidas a priori. Assume-se então a premissa, que existe de fato um enlace de causa e efeito. Nesse sentido, a teoria de Melanie Klein apresentou consonância com as ideias de Freud.

Para Klein, os conflitos que posteriormente desencadeiam instabilidade mental, se iniciam em uma fase prematura da vida, e é intrínseco a condição humana. De acordo com suas pesquisas, é na cesura do nascimento que o ego rudimentar experimenta pela primeira vez, sensações corpóreas até então desconhecidas - no ciclo da vida intrauterino - e que lhe causam pavor. Como consequência, uma
série de defesas psíquicas entram em atividade, na tentativa de suportar as ansiedades que inundam o bebê.

A primeira ansiedade segundo Klein, é de caráter destrutivo. Na posição esquizoparanóide, o bebê dirige ao objeto primordial - seio materno - ataques sádicos fantasiando absorver deste, as qualidades das quais depende para manter sua vida e evitar frustrações. Alguns meses mais tarde, com a entrada na posição depressiva - e o ingresso da culpa - as ansiedades se deslocam para o medo de perder o objeto amado que danificou, e para a necessidade de repará-lo. Sendo assim, a técnica de Klein tem por finalidade elucidar fantasias arcaicas e onipotentes que existem, e causam ansiedades de qualidade patológica.

Wilfred Bion toma para seu pensar analítico, uma variedade de ideias que descolam a psicanálise da causalidade médica. Em uma leitura superficial, as ideias desse autor, podem soar incompatível com as premissas da psicanálise, de fato, faz-se necessário algum nível de aprofundamento na sua obra, para compreender a fertilidade do que ele propõe.

Inspirado na filosofia de Emmanuel Kant, Bion emprega nas suas conjecturas a ideia de O. Pois, o processo analítico deixa de ter um alvo, ou objetivo pré-definido, e passa a ser uma técnica exploratória do desconhecido. Isenta de direcionamento, ou fórmula de natureza universal - como pressupõem as teorias. Portanto, nesse modelo, pode-se considerar entre outras coisas, que a teoria ocupa o lugar de suplemento à intuição analítica, e o seu não-lugar é o de molde e/ou categorização de doença mental.

Privilegiando a abstração, e sobretudo, a experiência emocional que vigora durante a sessão de análise, Bion atribui ao que ele nomeou de função alfa a capacidade de desenvolvimento e expansão da mente, através do pensar. E uma possível falha em tal função, acarretaria em sua concepção, em “distúrbios de pensamento”. Sendo assim, a ideia de “pensar pensamentos” proposta por Bion, à primeira vista, pode parecer redundante. Mas foi exatamente isso, que fizeram os primeiros filósofos, que ousaram sair de suas cavernas.