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Freud, um infrator de suas próprias técnicas?

Freud, um infrator de suas próprias técnicas?

Por Victória Cardoso Cozza - 

Após o abandono das técnicas antes utilizadas, tais como hipnose e catártica, Freud começa a aplicar a então chamada técnica psicanalítica, consistindo na utilização da associação livre que compreende a fala livre do paciente sobre tudo que vier à sua mente. No caso Dora, é possível vislumbrar a utilização de algumas técnicas da psicanálise como a interpretação dos sonhos para acessar o conteúdo recalcado de Dora e a associação livre, servindo de auxílio para trazer à tona conteúdos reprimidos ajudando na elucidação dos sintomas.

Com o intuito de orientar os demais médicos nesse novo método denominado psicanálise, Freud publica “Recomendações aos médicos” em que traz diversas orientações para aqueles que querem seguir tal método, evitando assim uma psicanálise selvagem.

No entanto, no que concerne as recomendações, o próprio Freud não as seguia, ficando nítidas tais incongruências na análise de Dora, como por exemplo a afronta ao princípio da autonomia do paciente em querer fazer o tratamento, visto ter sido Dora obrigada pelo seu pai a se tratar com o médico.

Ademais, o próprio Freud não fazia análise pessoal, confrontando assim outra de suas recomendações na qual tem por finalidade ampliar a perspectiva do médico para reconhecer no paciente aquilo que já fora reconhecido em seu próprio inconsciente reprimido.   

A incansável busca de Freud em provar suas teorias acabou deixando falhas no caso Dora. Por ser o caso rico em material que o possibilitaria demonstrar suas convicções, como por exemplo, o acesso do conteúdo recalcado através da interpretação dos sonhos por ela relatados  e dos sintomas histéricos ligados ao desejo e a sexualidade, Freud se cega e deixa passar um mecanismo essencial em favor do psicanalista: a transferência.

A transferência compreende a reedição de afetos do paciente na figura do analista, viabilizando assim o acesso ao conteúdo reprimido na via inconsciente, sendo, pois, um outro tipo de retorno do reprimido.

No entanto, Freud não soube manejar de forma adequada a transferência de Dora que projetou seus desejos reprimidos na figura dele e, ainda, a contransferência, pois não se absteve dos sentimentos que foram despertados nele próprio, não fazendo uso da neutralidade dentro do setting analítico.

Assim, é possível observar que Freud tinha um baixo grau de aderência às suas próprias recomendações e que a busca obsessiva em consolidar suas teorias causou a perda de sua paciente Dora, que desistiu do tratamento, mas que serviu de alerta para a essencialidade do manejo da transferência durante o processo psicanalítico.