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A fobia do pequeno Hans

A fobia do pequeno Hans

Por Adilton Medeiros Costa - 

No histórico do pequeno Hans Freud nos mostra um caso clínico de fobia, nos proporciona uma riqueza de detalhes referentes à teoria da sexualidade infantil. Assim como deixa claro o narcisismo primário e sua evolução para a relação de objeto.

Hans era um menino de quatro anos e meio vivia cheio de questionamentos sobre: os órgãos sexuais, sobre as diferenças anatômicas entre o homem e a mulher. Sobre o nascimento de bebês e envolvido por uma série de fantasias ligadas a masturbação, a escopofilia, ao Édipo e ao sentimento de castração.

A vivência da sexualidade infantil despertou em Hans o temor de castração e intensa ansiedade que foi deslocada para um objeto fobigeno no mundo externo e desencadeou o desenvolvimento de uma fobia. O que Freud quis enfatizar é que o conhecimento das teorias da sexualidade infantil é imprescindível para se compreender as doenças psíquicas e que sendo elas mal orquestradas formam o complexo nuclear de uma neurose.

No presente caso Hans desde os três anos investigava sobre seu órgão sexual que chamava de pipi, o de sua mãe, comparava com o tamanho do órgão sexual de animais grandes, queria ver o pipi de sua mãe, de amigas; também gostava de ser olhado fazendo pipi, e mais tarde começou a se sentir envergonhado com esse ato o que sugere que seu exibicionismo sucumbiu a uma repressão.

Aos três anos e meio sua mãe ameaçou de cortar fora o seu pipi quando o viu se masturbando, esse acontecimento, mais tarde, somado aos fatos: de sua mãe não ter pipi e ao Édipo proporcionaram intenso temor de castração.

O que mais marcou Hans foi o nascimento de sua irmã o que lhe gerou imensas indagações e desconfiança de seu pai ao ser informado que foi a cegonha que a trouxe, assim como ficou tomado de ciúmes pela mesma.

Com o nascimento da irmã ele se viu ocupado com a origem das crianças, além de seus interesses autoeróticos e o amor edipiano.

Aos quatro anos já se interessava por meninas abraçando-as e fazendo-lhes declarações de amor, mas também já demonstrava o desejo da bissexualidade infantil, gostava muito de um amigo que também abraçava falava de seu amor por ele.
Ocasionalmente Hans dormia na cama com os pais, devido o seu terror noturno, fato este que facilitou a intensificação do amor edipiano pela mãe e aumentar a hostilidade para com o pai.

A afeição erótica pela mãe fez com que ele desejasse que seu pai caísse e morresse como um cavalo que ele viu cair, mas ao mesmo tempo sentia culpa pela agressividade para com o pai, às vezes batia na mão dele e depois a beijava apresentando hostilidade e afeição para com o mesmo.

O que aconteceu com Hans foi que a afeição erótica reprimida pela mãe se  transformou em ansiedade que foi deslocada para medo de cavalos e a hostilidade para com o pai posteriormente se transformou em medo do cavalo mordê-lo.
Freud contou esse caso clínico para comprovar suas hipótese sobre a gênese e a evolução da sexualidade infantil, Aparece nesse caso o que acontece com todas as crianças umas mais cedo outras mais tarde e o que diferencia dos neuróticos é que para superar seus complexos fazem uso de substituições excessivas.

Em suas teorias sobre a sexualidade Freud nos diz:

a) Sobre o autoerotismo -  De início toda criança é autoerótica se satisfaz consigo mesma, o prazer é nas zonas erógenas do corpo. O de Hans era no pênis e na excreção anal.

b) Sobre a bissexualidade – Toda criança está sujeita à ela e todos um dia na vida fizeram em seu inconsciente uma escolha de objeto homoerótico, pois de início a criança tanto faz ser cuidada por uma figura feminina ou masculina o prazer será mesmo, por isso Hans gostava de meninas e meninos.

c) Dos instintos componentes – Hans vivenciou os instintos de exibicionismo e escopofilia que é o prazer de ser visto realizando funções excretoras e o de olhar, esses instintos são o caminho mais frequente à excitação sexual em suas formas passiva e ativa. Outro instinto componente que apareceu no caso Hans foi o agressivo, o sadismo que mais tarde foi substituído pelo instinto de compadecimento. Quando ele via um cavalo ser maltratado se penalizava, também quando batia no pai logo o beijava, mostrando a transformação do ódio em amor, a troca dos impulsos hostis pelo de afeição.

d) As manifestações sexuais masturbatórias – consistem na natureza dos instintos que surgem das zonas erógenas, o de Hans era o pipi e o anal, o primeiro levou a um temor de castração e o segundo a teoria cloacal que era a fantasia que sua irmã era o simbólico de um bolo fecal (parecido com um lunf)

e) As pesquisas sexuais infantis – o que leva ao instinto do saber e Hans investigava toda a sexualidade, fazia comparação, indagava a origem de sua irmã e isso o levou a desacreditar e a desconfiar que seu pai mentia quando lhe disse que sua irmã fora trazida pela cegonha, pois ele percebeu a alteração na sua mãe grávida.

f) A descoberta das diferenças anatômicas – primeiro Hans negou a ausência de um pênis na mãe, pois se a mãe não tinha pênis é porque perdeu e ele também poderia perder o seu, o que intensificava a ameaça de castração, só mais tarde ele pode elaborar e aceitar essa diferença.

g) O Édipo – Na infância as meninas se apaixonam pelos pais e querem se desfazer das suas rivais, as mães, e os meninos pelas mães e disputam com seus vivais, os pais, e Hans se apaixonou pela mãe e desejava inconscientemente que seu pai morresse, mas esses sentimentos aumentou o seu temor de castração o que levou a reprimir a corrente erótica para com a mãe e ao mesmo tempo a corrente hostil para com o pai. Hans deu uma saída mais saudável para o conflito edipiano quando fantasiou que ele se casaria com a mãe e teria filhos com ela e o pai se casaria com sua avó paterna.

Quando ele se fazia de cavalo e mordia o pai nas brincadeiras já expressava alí uma tentativa de identificação com o mesmo. Ele abriu mão do amor edipiano, voltou-se para seu pai e se identificou com ele, fez assim a saída do Édipo e evoluiu para a escolha de objeto.
No narcisismo primário Freud nos diz que de início a libido do indivíduo é investida em si mesma, é autoerótica, não necessita de objeto, acontece no momento em que a criança é narcisada, ela é o centro das atenções, tudo gira em torno dela e para ela, mas depois tem que ir para a relação de objeto para não ficar patológico, e foi o que aconteceu com Hans na medida que ele vai se voltando para as meninas parte de sua libido era investida na relação de objeto.

A fobia de Hans era produto de uma deformação, um deslocamento do medo de ser castrado.
Na fobia a angústia vai fazendo deslocamentos e quando encontra um objeto que tenha uma representação psíquica ele foca o medo para esse objeto, fantasiando assim que controla o medo.
O medo de cavalos impunha uma restrição da liberdade, impediu de sair à rua mas obtinha com isso o lucro secundário da doença ficava mais perto da mãe.

A angústia do fóbico tem a ver com a angústia de aniquilamento que para o homem equivale à perda do pênis.
Todo tratamento de Hans foi realizado por seu pai, Freud o viu apenas uma vez, Hans foi um caso de tratamento psíquico bem sucedido.

Crítica pessoal:
A obra O Pequeno Hans com suas ideias, ainda atuais, e consistentes lança uma luz, fazendo-nos compreender melhor o psiquismo infantil para análise da patologia de crianças, para a construção de propostas pedagógicas empregadas nas escolas e também para os pais curiosos que desejam educar os seus filhos organizando melhor o aparelho psíquico dos mesmos, coerente com o que lhe é peculiar.