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Interpretação e transferência

Interpretação e transferência

Por Sérgio Rossoni - 

O principal instrumento do psicanalista é a interpretação com base teórica de referência existencial inconsciente. “No tratamento, comunicação feita ao sujeito, visando-lhe dar acesso a esse sentido latente, segundo as regras determinadas pela direção e evolução do tratamento”(Laplanche e Pontalis – Interpretação – página 245 – Dicionário da Psicanálise – 4º ed. - São Paulo – Martins Fontes).

Espera-se através da interpretação do analista que o paciente obtenha “insights” que promovam uma nova posição diante de situações passadas, revividas na atualidade através do processo transferencial.

Além da interpretação, outras ferramentas utilizadas pelo psicanalista visando promover elaborações/insights no paciente são o apoio, a sugestão, e o manejo. Etchengoyen destaca três dos instrumentos mais importantes utilizados na Psicoterapia: Informação, o esclarecimento e a interpretação.

Informação = algo desconhecido pelo paciente. Exemplo: “fumar faz mal a saúde”.

Interpretar = dar informação ao paciente sobre sua transferência, e espera-se que através da interpretação o analisando tenha um insight.  

Esclarecimento = informação técnica; não é transferência do paciente.

Tão importante quanto informar, interpretar e esclarecer é a Pontuação: quando o analista deseja chamar a atenção do paciente para um foco que ele (paciente) não esta vendo. Saber pontuar é ensinar o ego a interpretar. Informar, pontuar e esclarecer é mais uma questão dinâmica do que técnica.

Para Melanie Klein a transferência opera ao longo de toda vida. “Na medida em que ela começa a abrir caminho dentro do inconsciente do paciente, seu passado vai sendo gradualmente revivido. Desse modo, sua premência em transferir suas primitivas experiências, relações de objeto e emoções é reforçada, e elas passam a localizar-se no psicanalista. Disso decorre que o paciente lida com os conflitos e ansie­dades que foram reativados, recorrendo aos mesmos mecanismos e mes­mas defesas, como em situações anteriores”. (KLEIN, M. As Origens da Transferência. Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991).

Klein nos explica detalhadamente os processos de projeção/introjeção, que iniciam as primeiras relações de objeto (mãe/seio), originando as posições esquizoparanóide e posteriormente a posição depressiva, objetos bons e maus, amor e ódio, nos dando uma visão clara sobre a transferência:

“A transferência origina-se dos mesmos processos que, nos estágios iniciais, determinam as relações de objeto. Desta forma, na análise temos que voltar repetidamente às flutuações entre objetos amados e odiados, externos e internos, que dominam desde o começo da infância”. (KLEIN, M. As Origens da Transferência. página 76 - Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991).

É através da transferência negativa que se pode mergulhar profundamente nas camadas inconscientes da mente. Ambas as transferências (positivas e negativas) encontram-se interligadas.

“Na transferência o papel do analista pode ser de objeto bom, objeto mau, ambos os pais, bondosos ou perseguidores”. (KLEIN, M. As Origens da Transferência. página 77 - Obras Completas de Melanie Klein: Volume III Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Rio de Janeiro: Imago, 1991).

Interpretar sempre é informar ao paciente sobre sua transferência.