Por Raquel Mariano e Fernanda Hisaba -
O Filme Filadélfia, lançado em 1993, dirigido por Jonathan Demme, embora tenha 30 anos, retrata temas que são atuais até o presente momento, pois lança uma grande discussão sobre preconceito, AIDS, homossexualidade, discriminação, justiça, e nos faz refletir sobre como a temática foi tratada na década de 90 e como é na sociedade atual.
Filadélfia nos conta a história de um brilhante advogado, Andrew Beckett (Tom Hanks, vencedor do Oscar de melhor ator), recém promovido a sócio em uma das maiores firmas de advocacia da cidade, e que é demitido após a direção descobri-lo portador do HIV sintomático e, dado o contexto da época, provavelmente homossexual. Andrew entendeu que sua demissão foi motivada pelo preconceito à sua condição, dando início a um grande drama em busca de um advogado que o ajude provar a sua verdade frente ao tribunal.
A causa de Andrew repercutiu grandemente na Filadélfia e consequentemente, não só ele e seu companheiro foram expostos, mas toda a sua família, que compartilha da experiência vivida pelo protagonista, assim como o advogado Joe (Denzel Washington, em uma comovente atuação), que inicialmente personifica a percepção da vulnerabilidade em cada um de nós diante do desconhecido e até então letal HIV e o preconceito e a discriminação ante à diversidade de orientação sexual.
Para além destes temas tão evidentes e que seguem em permanente discussão, outro vértice se nos aponta.
A música tema do filme, Streets os Philadelphia, de Bruce Springsteen (vencedora do Oscar de melhor canção) introduz com profundidade e delicadeza a condição do humano, carente de empatia e aceitação por parte da sociedade e do grupo familiar em que se encontra inserido, na luta pela afirmação de seus valores e da plenitude de suas escolhas, em todos os seus aspectos.
Tudo se inicia com a gestação de um filho em nossa mente. Já nesse espaço, imaginamos como ele vai ser, como será seu desenvolvimento, com quem será parecido, se gozará de boa saúde, dentre outros inúmeros quesitos. No processo gestacional, outras tantas inquietações permeiam a mente dos pais: “nascerá perfeito? Será um bom filho? Terá sucesso?”, dentre tantas outras perguntas.
Sabemos apenas que se tudo ocorrer bem no parto, teremos um filho para cuidar e educar, que vai crescer, vai bater asas e buscar seu espaço nesse mundo, fazer suas escolhas que nem sempre estarão de acordo com as nossas. É possível amar esse filho que não nos sai à semelhança, em desacordo com nossas expectativas, diverso daquele dos nossos sonhos? Amar talvez envolva justamente poder entrar em contato com essa diversidade. Colocarmo-nos disponíveis para acompanhar as conquistas e as derrotas, os amores e as dores, ainda que isso resulte em um sofrimento que não fez parte das nossas esperanças.
Sob esse ponto de vista, Filadélfia nos traz um inquietante contato com o protagonista, um filho amoroso, um irmão gentil, um companheiro dedicado e um profissional de sucesso, que escolhe para si um caminho áspero, e encontra em seu círculo o apoio necessário para afirmar diante de um mundo hostil aquilo que lhe é caro.
Num determinado momento do filme, há uma reunião familiar onde um vídeo sobre Andrew é passado, mostra ele pequeno, saudável, com seus irmãos correndo e brincando na praia. E agora te pergunto: O que será que os pais de Andrew sonharam para ele?
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Direção: Jonathan Demme
Plataforma: Google Play