Por Ale Esclapes -
É indissociável a noção de patologia de normalidade. Uma não consegue existir sem a outra – a patologia é um desvio de rota, é um erro, é algo que não deveria estar lá, e como um câncer, deveria ser arrancado.
A psicanálise nasceu de uma ciência e em uma época em que o conceito de patologia fazia todo o sentido, a saber, a medicina. Mas psicanálise não é medicina e nem psicologia. Nessas áreas pode fazer todo o sentido palavras como psicopatologia, distúrbio, psicose, etc. Mas em psicanálise, faz sentido?
Imagine um encontro no qual paciente e analistas estão de acordo em que o paciente não deveria ser como ele é, mas algo diferente. Estaríamos pensando em um tipo de “tratamento”, “antipaciente”. Assim como temos na psiquiatria os “antidepressivos”, os “antipsicóticos”, os “ansiolíticos”, teríamos como meta uma psicanálise “antipaciente”.
Bion no capítulo 2 de Atenção e Interpretação vai deixar claríssimo, mais uma vez em sua obra, que uma epistemologia usada para coisas inanimadas não serve para serem animados, ou seja, com almas.
Mas a psicopatologia dita psicanalítica está por aí, travestida de distúrbio, trauma, estrutura, perversão, anamneses, de explicações. Essa forma de pensar fica ali, bem quietinha no fundo da cabeça desse “analista”, e, aqui e acolá aparece na sessão.
Imagine um encontro em que nem sequer o seu analista lhe aceita como você é! Se o paciente se aceita ou não como ele é, é um exercício de sua liberdade, mas eticamente eu, na minha forma de pensar a psicanálise, não tenho esse direito, e preciso juntamente com o paciente, explorar o que se passa ali. Para mim essa atitude antipaciente, é algo entre o cruel e o desumano. Aqui jaz uma das grandes diferenças para mim entre a psicologia, a psiquiatria e a ética psicanalítica.