Por Lilian Afonso e Patrícia de Pádua Castro -
O curta-metragem "O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo", inspirado no livro de Charlie Mackesy de mesmo nome, foi vencedor de vários prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Curta-Metragem de Animação em 2023.
A animação conta a história de como esses personagens se encontram e de como esse encontro os transformam durante sua jornada, em um clima de encantamento, de sonho, de bondade e esperança do início ao fim. A forma delicada com que somos expostos a perguntas aparentemente simples, mas muito profundas, nos faz pensar que, ao darmos sempre as mesmas respostas pré-estabelecidas, nos privamos de entrar em contato conosco como seres racionais e emocionais, o que nos dá a sensação de estarmos perdidos, tal como o menino do curta-metragem. "Por que nos preocupamos tanto com o exterior se é dentro que as coisas acontecem?" Esta é uma das perguntas que o curta apresenta e sobre a qual acreditamos valer a pena refletir.
Outra reflexão que o curta propõe está relacionada aos tipos de vínculos que estabelecemos com as pessoas, com as intempéries da vida, com nossos sentimentos, com os dos outros e com partes de nós mesmos. Cada um de seus personagens tem uma personalidade própria, um conflito e um modo de vincular só seu, e como expectadores identificamos essas características em nós e em vários momentos de nossas vidas. A forma como se dá o encontro entre eles e a maneira como esses vínculos vão se estabelecendo exige dos personagens muita coragem para se arriscar a vivenciar uma experiência nova e romper com aquilo que já foi pré-estabelecido e que já estava posto pelo senso comum. O que fica implícito durante toda a animação é que coragem não é sinônimo de brutalidade, mas de sinceridade e respeito consigo, com o outro e com as dificuldades, mesclada sempre com gratidão pelo que se alcança.
A mensagem que fica para nós é de que, através dos vínculos que estabelecemos, também se estabelecem as possibilidades de encontro com partes de nós mesmos que se achavam perdidas ou nunca encontradas. Sonha-se que, como ocorre no curta, esse contato aconteça de maneira gentil e amorosa. Por fim, fica a esperança de que nessa jornada de autoconhecimento os caminhos possam ser trilhados na companhia de alguém que se disponha sinceramente e na medida de suas capacidades, a enfrentar os desafios do percurso, cujo final pode nos revelar um lugar diferente daquele que se esperava chegar.
Essa resenha é fruto dos debates do Grupo Psicanálise em Cena compilados por Lilian Afonso e Patrícia de Pádua Castro.
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Direção: Charlie Mackesy
Plataforma: Apple TV