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Por Adriane Martins Watanabe -
“Nem todo anjo é bom e nem todo demônio é mau... ás vezes os demônios são mais sinceros em suas maldades" (autor desconhecido).
Freud nos traz em “Inibição, Sintoma e Ansiedade” (1926), um texto de grande importância, pois representa uma virada em sua obra, no que diz respeito a teoria da ansiedade e funcionamento do Ego.
Em seus escritos anteriores, a ansiedade seria causada pelo recalcamento, onde a representação e o afeto estariam ligadas. O recalcamento separaria o afeto da representação, e este afeto desligado se transformaria em ansiedade. Concluindo o afeto desligado seria a angústia, portanto o recalcamento seria a causa da angústia. Neste texto porém Freud nos propõe, que poderiam existir experiências de ansiedade, como o trauma do nascimento ou um perigo externo as quais seriam estas produtoras de ansiedade/angústia., assim neste texto Freud nos traz que a partir dessas experiências o Ego pode pegar essa angústia ou afluxo de ansiedade e usar isso como sinal para disparar o recalcamento, portanto aqui temos uma inversão na teoria da angústia descrita anteriormente.
Resumindo o Ego por ser parte do ID modificado, apresenta a angústia para os processos inconsciente, para produzir o recalcamento, o Ego toma parte da angústia proveniente dessas experiências físicas, reais e externas como o nascimento, e também traumas pelos quais ele passou e apresenta como sinal para o inconsciente disparar o recalcamento. Freud nos traz assim que a pulsão de morte não seria algo tão perigoso, e que o Ego poderia controlar as coisas, e teria certo efeito sobre a ansiedade sendo capaz de organizar suas funções. À partir deste texto a Psicanálise encontra uma bifurcação, a angústia não seria algo de uma patologia, mas sim um sinal forte de perigo que algo está para ocorrer.
Melanie Klein, atendendo crianças muito pequenas, pode inferir aspectos do funcionamento mental muito primitivos ainda nos primeiros meses e anos de vida, podendo assim contribuir com a teoria pulsional de conflitos e desejos inconscientes reprimidos de Freud, não negando-a, mas acrescentando uma nova visão que introduz a teoria das relações de objetos, percebendo assim que dependendo do desenvolvimento mental primitivo, o indivíduo apresenta um tipo de relação de objeto, um determinado tipo de defesa para lidar com angústia e também um tipo de angústias arcaicas diferentes, dependendo do local ou posição em que esse indivíduo se encontre no seu desenvolvimento. Ela acreditava que a pulsão de morte seria inata e acompanharia o indivíduo desde o nascimento, acreditava que essas pulsões de morte e de vida marcariam sua existência pelo constante conflito entre elas, nos traz a ideia da realidade psíquica constituída por um universo de objetos internos relacionados entre si através de fantasias inconscientes.
Uma das maiores contribuições de Melanie Klein, foi sua conceituação do desenvolvimento psíquico diferente de Freud, sugerindo a noção de Posição, as quais revolucionaram as teorias psicanalíticas. As posições são períodos normais do desenvolvimento da vida psíquica de todas as crianças, continuando a exercer influencia em toda a vida do indivíduo, portanto estas posições estão presentes pelo resto da vida, alternando-se em função do contexto vivido, assim o psiquismo teria um funcionamento dinâmico entre as posições, diferentemente das fases psicossexuais do desenvolvimento de Freud (fase oral, anal, fálica, genital ) (1905), as quais teriam um elemento mais estático.
Denominando esse tipo de funcionamento primitivo composto por relações de objetos parciais, angustia persecutória, e mecanismos de defesa primitivos como identificação projetiva, negação, cisão (fragmentação do ego), idealização, como Posição Esquizoparanóide (PS).
Klein localiza a Posição Esquizoparanóide entre o nascimento e o terceiro ou quarto mês de vida do bebê, período em que os processos de cisão do seio, em seio bom (gratificador) e seio mau (frustrador ) estão em seu ponto máximo, assim como os impulsos destrutivos, o bebê possui impulsos sádicos não só contra o seio da mãe, mas também contra o interior de seu corpo, com desejos de esvaziá-los e destruí-los de forma sádica.
Segundo Klein o mundo do bebê é repleto por fantasia inconscientes e ansiedades arcaicas, figuras boas e más, sendo que desde o nascimento, o bebê está exposto a pulsão de vida e morte que são desempenhadas por impulsos libidinais e agressivos.
Klein analisa e interpreta a ansiedade como incentivadora e também podendo ser inibidora, devido aos mecanismos de defesa, impedindo a criança de desenvolver suas capacidades emocionais e cognitivas.
A primeira ansiedade experimentada teria origem em fontes internas e externas, segundo Klein esta viriam da experiência do nascimento, pois o bebê experimentaria dor e desconforto advindos dessa experiência, vivenciando como um ataque realizado por objetos perseguidores, assim o bebê precisaria projetar os impulsos destrutivos sobre o objeto externo, gerando um ciclo contínuo de projeção e medo de aniquilamento (ansiedade persecutória).
À partir da elaboração e superação destes sentimentos emerge a passagem da Posição Esquizoparanóide para o que Klein denominou Posição Depressiva (D). Na qual o sujeito percebe uma relação de objeto total, sente a angústia depressiva e apresenta mecanismos de defesa mais desenvolvidos como a reparação, uma maior integração do ego e do objeto externo (mãe/seio), sentimentos afetivos e defesas relativas a uma possível perda do objeto amado em decorrência dos ataques da posição anterior (reparação), este seria o ponto central do desenvolvimento de cada indivíduo.
Em 1961 Klein surpreende a comunidade psicanalítica com seu conceito sobre a inveja e seus desdobramentos na personalidade do indivíduo.
Assim nos traz que a inveja é a mais radical das manifestações dos impulsos destrutivos, pois leva ao ataque e destruição dos objetos bons cuja introjeção seria a base para uma vida psíquica saudável.
A inveja é descrita como um sentimento raivoso para com objeto que possui e desfruta de algo desejável, através das quais incentiva ações do bebê em destruir esse objeto. Klein aponta que a inveja é uma emoção muito arcaica que remonta ao nascimento, sendo esta a inveja direcionada aquela fonte criadora de bem-estar, daquele seio farto através do qual o bebê depende,
assim quando este não é gratificado de imediato, surge o sentimento de inveja.
Para teoria Kleiniana os aspectos destrutivos estão sempre presentes, os impulsos destrutivos operam desde o início da vida, onde o bebê coloca partes más de si mesmo, na mãe e no peito para estragar e destruir o que há de bom.
A inveja constitui uma expressão da pulsão de morte projetada no seio e na mãe.
Visando danificar a bondade do objeto, para remover a fonte de sentimentos invejosos, interferindo no objeto bom, tornando-o um perseguidor, o bebê sente que foi privado e a gratificação foi guardada para uso próprio do seio que causou a frustração. Podemos citar a voracidade como uma maneira agressiva de representar a inveja, esta causa ansiedade, criando defesas no inconsciente, gerando medo no indivíduo de ser destruído também, portanto temos aqui a ansiedade persecutória, assim a inveja é um fator determinante na constituição da Posição Esquizoparanóide. Como caminho a criança precisará introjetar o objeto bom, o qual será fundamento para apreciação do objeto bom nos outros e em si mesmo, podendo assim suportar a inveja, o ódio e ressentimento.
O objeto bom é capaz de ser recuperado e isso fornece a base da estabilidade de um Ego forte. Quando o Ego começa a tolerar seus próprios desejos de destruição, o bebê consegue ter uma visão mais realista da mãe e a notar que ela é um ser independente dele, podendo ser tanto boa quanto má, com isso vai surgindo assim o medo de perder a mãe, e isso faz com que o bebê deseje proteger essa mãe, inclusive dos próprios desejos de destruição, percebendo este ser incapaz, desenvolve sentimentos de culpa pelos desejos destrutivos que o bebê sentiu pela mãe e que eram encarnados pelo seio mau, segundo Klein a criança passa a sentir desejos de reparação e assim desenvolve o sentimento de empatia por ela, a mãe.
Um dos principais derivados da capacidade de amar é o sentimento de gratidão, fator constituinte na Posição Depressiva descrito por Klein. Essas experiências tornam possível o sentimento de unidade com outra pessoa e também de ser compreendido, o que é essencial para as relações amorosas e de amizade durante toda vida do indivíduo.