Por Ale Esclapes -
Nossas emoções sempre sofrem um processo de significação – como podem ser vividas e como devem ser vividas são dois dos elementos desse processo. No reino do dever, está inscrito inclusive emoções que deveríamos sentir. É nesse espaço que se desenvolve o filme “A filha perdida”.
Uma progenitora deveria amar seus filhos de forma incondicional – isso é o que nossa cultura ocidental contemporânea nos diz que deve acontecer e que a mãe deva sentir. As emoções em qualquer relação são mais complexas do que esse “mandamento” do incondicional, e a relação da maternidade é permeada de sentimentos de ódio, horror, inveja etc., assim como amor, admiração, contemplação etc. E quando o que se sente fica bem distante do “amor incondicional”, quando se a relação se torna insustentável?
E se o intentável dá luar ao maravilhamento? Aí onde deveria estar o “amor incondicional” aparece o maravilhamento das experiências vividas na ausência? A culpa logicamente deveria ocupar essa lacuna. E se não ocupa? Uma falsa culpa poderia ocupar esse lugar?
É um filme que essencialmente nos trás a tensão entre dois sentimentos que deveriam estar presentes (o amor incondicional e a culpe na sua ausência) e o maravilhamento das experiências de ausência. Nós somos levados cada vez mais fundo nessa tensão, que se expande por todo o filme, da qual a própria Leda (personagem de Olivia Colm). “Não tenho esse sentimento materno” – duramente constata Leda ao final do filme. Nem todos tem. Mas poder sustentar as implicâncias dessa falta, bem como suas vicissitudes, é a grande viagem que o filme nos propõe.
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Direção: Maggie Gyllenhaal
Plataforma: Netflix