Por Willian Fausto Lourenço -
A psicanalítica se sustenta em quatro fundamentos: a existência do inconsciente; a possibilidade de explorar o inconsciente; se dispõem de um aparato técnico que permite a realização de tal exploração; e que o inconsciente é infinito, atemporal, incognoscível e sem contradição.
Igualmente, para Freud, o inconsciente é a sede das pulsões e está composto pelo material reprimido advindo de desejos sexuais do sujeito em relação a figuras parentais; por isso mesmo esse conteúdo foi ocultado pois o sujeito não suportaria mantê-lo em instancias consciente.
No inicio de sua teoria, Freud entendia o aparelho psíquico como um lugar topográfico, algo que ocupava espaço dentro da mente humana sendo subdividido em consciente, pré-consciente e inconsciente. Por isso que ele, na clínica analítica, buscava fazer consciente o conteúdo inconsciente. E também, havia a crença de que era possível conhecer o inconsciente, o problema é que ele se manifesta de maneira disfarçada nos sonhos, sintomas, fantasias, ato falhos. Más, neste modelo o inconsciente era o reprimido enquanto o consciente reprimia constantemente o que provinha deste lugar.
Com o passar do tempo, Freud concebe o aparato psíquico mais como um modelo estrutural e o subdivide em Ego, Id e superego. Essas instâncias vivem em uma certa tensão, sendo que este conflito é exatamente o que permite entender seu modo de funcionar. O inconsciente passa a ser entendido a partir do principio de prazer, enquanto o consciente relacionado com o principio de realidade. De igual modo, outra perspectiva é a de que alguns conteúdos que estão no inconsciente não são conteúdos reprimidos e nem tudo que está no inconsciente é reprimido.
O Id se torna o ponto de partida de tudo. Ele é a instância regida pelo princípio de prazer estando ligado à libido, aos impulsos inatos, não conhece a realidade consciente muito menos a ética e a moral. Por fim, o Id é a sede das pulsões, dos desejos e afetos. Ele está marcado por uma dinâmica quase animalesca pois se acerca ao instintivo, ao mais primitivo e arcaico do ser humano não conhecendo a realidade consciente. Mas já sabemos que o ser humano não é apenas regido pelos instintos, há que negociar com a realidade e os desejos e expectativas individuais, coletivos e sociais. Aí entra a importâncias das outras instancias do mundo psíquico do sujeito, Ego e Superego.
O Ego se distingue do Id; na verdade, ele se conforma em oposição ao Id. Assim, o Ego se contacta com a realidade funcionando com base no principio de realidade e sendo construído por identificações. Ou seja, o Ego ao se identificar, torna-se “igual” aos objetos que deram prazer ao Id. Assim, ele define quem é a pessoa sendo uma parte consciente e outra inconsciente. Se pode compreender então, que o Ego tem relação com a realidade, se forma com parte do que vem do Id e do ideal do Eu (uma instancia crítica). Por esse último, o Ego se firma também em um ideal de perfeição, espécie de nirvana onde tudo voltará a ser como antes, talvez como foi na vida uterina.
O superego nasce das pulsões de vida e de morte e é o herdeiro da castração ocorrida no complexo de Édipo. Então ele é constituído pelo sentimento de culpa inconsciente e se mostra em performances relacionadas à imposição da lei. O superego tem um caráter inibidor, impositor, moral, atuando a partir de leis herdadas do grupo, valores e modo de atuar.
O Ego é o mediador entre o Id e o Superego. Nem tanto prazer sem limites, nem tanto dever; nem muita culpa, nem muito pecado. Há que encontrar um ponto de equilíbrio para não enlouquecer e atuar de maneira possível e aceitável à vida psíquica e à vida com os outros. O Ego é responsável por fazer este diálogo, então.
Outro tema que nos importa que já tocamos de maneira superficial, é a importância do complexo de Édipo na formação do Ego e do Superego. O menino que deseja a mãe e rivaliza com o pai e tem vontade de elimina-lo e ao se deparar com a castração, abandona a mãe e identifica-se com o pai. A menina, a princípio, desenvolve amor pela mãe, acredita que ela lhe vai dar um pênis, mas chega a ponto de culpa-la por não ter tal órgão. Ela entra em rivalidade com a mãe por acreditar que ela, por estar com o pai, tem também tem um pênis. Ao abandonar a mãe, a menina buscará o amor do pai através do pênis que receberá, o pai nega esse amor e a obriga a identificar-se com ele.
Todo esse processo é internalizado e as instancias Ego e superego são formadas, afinal não é possível desejar tudo e obter tudo o que se deseja (id). Se pode dizer que a formação do Ego, Superego e Id e suas implicações já ditas, permite (de maneira simbólica) a introjeção dos pais que viverão inconscientemente dentro de cada ser humano.
O incesto de desejar os pais e a vontade de mata-los por não os ter, permitirão a formação do senso moral, das ideias de certo ou errado, permitido e não permitido, aceito e não aceito. O sujeito aprenderá, pela culpa inconsciente e pela lei estabelecida, que há um mundo externo e que para nele viver será necessário obedecer a princípios, códigos de convivência e ordens para assim dialogar com desejos pessoais, com desejos do outro, da sociedade e todas as expectativas morais e éticas que de aí nascem.