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Édipo, o complexo do qual nenhuma criança escapa

Édipo, o complexo do qual nenhuma criança escapa

Por Fernanda Lima Luggeri - 

O escritor e psicanalista Juan David Nasio, escreveu o seguinte contexto na página 40: "O supereu é instituído graças a um gesto psíquico surpreendente: o menino abandona os pais como objetos sexuais e os mantém como objetos de identificação. Uma vez que não pode mais tê-los como objetos de seu desejo, apropria-se deles como objetos do seu eu; na impossibilidade de tê-los como parceiros sexuais, promete inconscientemente ser como eles – em suas ambições, fraquezas e ideais".

Pois bem, indo ao encontro desse estudo, pude penetrar juntamente com a paciente K., e em algumas sessões que me deram a possibilidade de aprofundar-me nesse assunto: OBJETO do seu EU em suas ambições, fraquezas e ideais.

A fala quase incansável nas histórias de seu pai, a opção pela homossexualidade e os sentimentos de raiva do sexo masculino, como exemplo o ex-noivo, comecei a pensar, analisar e acreditar que essa mulher de 30 anos, pode ter sido inserida no complexo de Édipo dos meninos pelo menos para estudo de caso, maluquice minha, talvez com uma grande dose de fantasia, mas dessa forma compreendendo muitos fatores. Hoje, a visão com relação a figura masculina e de seu pai são um pouco diferente, talvez um pouco menos ansiosa e triste no setting.

No inicio do mês de abril desse mesmo ano, obtive a chance de perceber a inveja pelo pai que esse "menino" possui. Essa é a identidade sexual de K., e ao meu ver ela se encaixa nos contextos dos meninos, tornando-a neurótica, dando origem à todos os seus sofrimentos. Essa inveja apareceu quando em uma sessão tentou arduamente destruir a especialização médica de seu pai, desqualificando-se os métodos arcaicos nas cirurgias, a inveja transformou em raiva e em choro. 

K., tem 30 anos, homossexual, reside na região sul de SP, médica,  tem três gatos. K., veio à sessão no intuito de "curar" suas discórdias, longas brigas e imensas mágoas com seu pai, entender a bebida que ele tomava, as mulheres que se envolvia extraconjugal, o jeito dele, segundo K., com muita soberba, entre outros comportamentos que repudiava, mesmo depois da vigésima sessão ainda luta com todas essas fantasias.   

Na última sessão, mais preciso, no dia 16 de maio desse ano, K., perguntou-me: "porque minha namorada falou que sou como as pessoas da área médica: frios, arrogantes, soberbos e calculistas...?".Eu devolvi essa questão na forma de espelhamento.

K., talvez começou a entender que executa os comportamentos semelhantes de seu pai e não admira muito esse caminho, mesmo assim, faz uma repetição de comportamentos, inconscientemente ser como seu pai. Isso, ser igual ao seu pai para possuir o corpo de minha mãe? Sim, será que é isso? Hoje, possui o corpo de outra mulher, com o mesmo nome K., será outro processo a estudar, um processo narcísico?

Segundo os estudos de Juan David Nasio, no livro: "Édipo - O complexo do qual nenhuma criança escapa", pg. 18, num quadro explicativo ele descreveu o seguinte contexto: na reativação do Édipo na idade adulta podemos encontrar uma neurose comum e mórbida.

Aqui, neste caso, podemos analisar essa morbidez quando K., deseja a morte de seu pai e é demonstrada a raiva na boca de K., durante as sessões, quando fala de seu pai, me lembrava os desejos mórbidos de "cortar" esse falo, de "cortar" a língua que escuta as "bobagens" do pai e também o contexto de possuir as relações com sua mãe, outras mulheres, sua profissão, bem como, a bebida entre outros. Uma certa vez, K., chegou à sessão com uma dose de whisky, um processo bem interessante, uma vez que enfatiza que detesta as bebedeiras de seu pai.

Na profissão ambos são médicos, mas o pai tem a especialização em endocrinologia, e K., trabalha com outra especialização.

No livro, o autor e mestre, Nasio menciona na dessexualização dos pais, a renúncia aos pais e a incorporação dos pais como objeto de identificação. Será esse ponto? Objeto de identificação? Acredito que sim, porque buscou a mesma profissão do pai e não apresenta a menor resiliência com seus pacientes no consultório.

Outro ponto bem significante, que podemos observar, é a identidade sexual, por isso, que chego a mencionar que K., tem inveja do falo do pai, quer possuir o corpo da mãe, como não pode por ter medo da retaliação, ou talvez, até de um processo de castração, considerando que é mulher, procura em outra mulher esse gozo, em substituição à mãe.

Por vezes, é claro e transparente, a busca excessiva de vencer esse pai internalizado nas sessões, porque corta a minha fala demonstrando quem domina as sessões, por ter este falo, grande falo imaginário. Hoje, está estudando a possibilidade de mudar de profissão, uma possível substituição pela medicina.

Acredito interessante e de grande valia este estudo para falarmos do Édipo dos Meninos com a inserção de uma paciente homossexual. A sexualidade está no formato genital, como a vagina, pênis ou na identidade sexual?? por isso, acredito que podemos falar sim, de K., no Complexo de Édipo dos Meninos. 

Ao leitor, desculpe a ousadia.