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Contribuições psicanalíticas pós-kleinianos

Contribuições psicanalíticas pós-kleinianos

Por Paula Carosio Saldanha - 

Nesse artigo destaca-se a importância de cada Psicanalista estudado da escola Britânica e seus principais pontos teóricos.
Hanna Segal: No artigo “Depressão no esquizofrênico” Hanna Segal vem nos mostrar que no desenvolvimento do Esquizofrênico, pode-se alcançar a posição depressiva, descrita por Melanie Klein. Ao sentir suas ansiedades depressivas o paciente projeta-as através da identificação projetiva. Para isso ocorrer é necessário o ego do bebê estar integrado para vivenciar uma relação de objeto total.

Hanna Segal também diz que é importante colocar o esquizofrênico em contato com os sentimentos depressivos e desejos de reparação. Conforme a progressão da análise é comum ver a parte depressiva do ego do paciente projetada no analista. É de grande importância descobrir onde e em que circunstâncias a parte do ego capaz de sentir depressão foi projetada, e interpretar isto para o paciente.

Já no artigo Notas sobre formação de símbolos Hanna Segal apresenta casos clínicos para exemplificar sua teoria sobre símbolos. Através de estudos do artigo de Jones chega a conclusão que quando um desejo, devido ao um conflito, tem que ser abandonado e reprimido, ele pode se expressar de modo simbólico, e o objeto de desejo a ser abandonado pode ser substituído por um símbolo. Essa simbolização pode ocorrer através de uma condensação, deslocamento ou sublimação.

Hanna nos mostrou a equação simbólica que é a relação entre ego, objeto e símbolo. Essa equação simbólica é a base do pensamento concreto do esquizofrênico, pois este utiliza mecanismos de defesa como a identificação projetiva. Como partes do seu self são projetadas para um objeto e identificadas, seu self é confundido com objeto, portanto o símbolo, que é uma criação do ego, é confundido com o objeto que é simbolizado.

Na posição depressiva, entendendo o objeto como um todo, os símbolos são sentidos como criações do ego e, portanto nunca completamente equacionados ao objeto original. O símbolo pode ser usado mais livremente, já que não é identificado com este. Aqui o símbolo é usado para superar a perda do objeto.

Quando pensamos em caso clínico verificamos que essas oscilações entre posições são muito comuns nas sessões de psicanálise, como pude ver como ouvinte de supervisão. Entre risadas e choros, entre momentos e ódio e momentos de gratidão, momentos conexos e momentos desconexos. 

Beth Joseph 
No artigo “O Paciente de difícil acesso” nos mostra um paciente de difícil acesso para o analista, onde sua personalidade é cindida. A personalidade divide-se em uma parte necessitada e outra não colaborativa dificultando o trabalho do analista. Esses pacientes aparentemente respondem rapidamente as interpretações, manipulam o analista. Partes de sua personalidade ficam indisponíveis podendo ocasionar confusão mental e apatia do analista.

Beth diz que o analista deve, portanto tomar cuidado com as transferências não serem contaminadas. Esse tipo de pacientes faz muito uso de mecanismos esquizoides como a identificação projetiva, mesmo que possuam uma sofisticação verbal.

Em seu artigo “A identificação Projetiva – Alguns Casos Clínicos”, Beth Joseph vem tratar da identificação projetiva, já descrita por Melanie Klein, porém ampliando seu conceito.

Já sabemos que a identificação projetiva significa colocar partes do seu self para dentro do objeto. Esse artigo nos mostra que a identificação projetiva, a onipotência, a cisão e as ansiedades sempre se encontram juntas no individuo.

O uso da identificação projetiva em excesso pode livrar o indivíduo do contato com sua própria mente. Temos como exemplo o caso C, onde a criança grita ao final da sessão como que uma descarga de energia mental e logo após fica apática. E o caso T, onde a identificação projetiva para equilibrar sua onipotência e narcisismo. Em esses dois casos a identificação projetiva é usada como defesas mais arcaicas típicas da posição esquizoide.

O caso de N já mostra que faz uso de identificação projetiva, porém consegue ver a analista como uma pessoa inteira, com qualidades e defeitos. N usa defesas menos arcaicas, típicas da posição depressiva.

No artigo “Transferência – Situação Total”, Beth Joseph trás a importância da noção das situações totais do paciente para a compreensão e utilização da transferência, deve incluir tudo o que o paciente traz para a relação. As relações objetais, fantasias, defesas, brincadeiras… tudo que o paciente diz e faz deve ser interpretado.

A contratransferência agora pode ser utilizada como uma ferramenta essencial para o processo analítico.

O artigo nos trás o exemplo do caso de N, onde Joseph nos mostra que podemos rastrear os conflitos e trazer de volta a vida dentro de uma relação, sentimentos que havia uma defesa, ou vivenciados rapidamente, podem ganhar raízes mais fortes na transferência.

O exemplo com caso C mostra como a transferência pode ajudar a ver a organização psíquica do paciente.

Joseph conclui nesse artigo que a transferência é uma relação viva onde há movimento e mudanças constantes. Os pacientes se comunicam com os analistas além de palavras e muitas vezes podem ser percebidas com a contratransferência.

“A inveja na vida cotidiana”, para mim foi o artigo que me proporcionou maior entendimento sobre todo conceito de inveja. Beth Inicia o artigo nos trazendo o significado da palavra inveja, que seria uma mortificação, uma malevolência, um sofrimento as capacidades superiores dos outros. Informa que Freud nos trouxe o tema inveja quando dizia que a mulher tinha inveja do pênis. Melanie Klein amplia esse conceito e universalize o tema trazendo a relação mãe/ bebe como se fosse relação analista/paciente.

O artigo trás também a questão da voracidade ligada à inveja, pois o indivíduo quer arrancar do outro sem culpa.

Diferencia a cobiça, que seria querer o que o outo tem, da inveja em si que visa destruir o que o outro tem. Esse sentimento de inveja faz com que não tenha gratidão o que dificulta aprender com o outro.

Na prática psicanalista essa inveja aparece de várias formas no setting; o paciente não entende as interpretações do analista, ou pode passar a ter uma reação terapêutica negativa, ou ainda se auto interpretar, deixando o analista de fora.

A idealização se torna um mecanismo contra a inveja, pois deixa a distância tão grande entre o indivíduo e o outro que acaba não tendo que se preocupar contra a inveja.  O oposto também ocorre, quando coloca o outro tão para baixo, sem capacidade alguma, que o indivíduo não precisa sentir inveja. Esse quadro pode ser confundido com Depressão, Insegurança, Síndrome do Pânico.

Nos casos de supervisão é muito comum aparecer essa inveja, descrita por Beth, de várias maneiras nas sessões, como exemplo tenho um caso de supervisão; uma mulher de 35 anos, contadora, reclamava muito de seu irmão e seu marido. No decorrer da sessão demostra grande disputa com ambos. Ao analisar esse caso foi detectada grande inveja, pois a paciente demonstra querer destruir o outro e é perceptível a falta de gratidão.

Beth Joseph nos diz em seu artigo “ Mudança Psíquica e processo analítico” que o Psiquismo tem um ponto de equilíbrio entre ansiedades e defesas, entra as posições depressivas e posições esquizoparanóides.

Esse ponto de equilíbrio muda durante uma sessão, chamado de Shift. Beth vai nos dizer que o analista acompanhar essa mudança é importante, pois através da interpretação, essas mudanças do paciente passa a ser controladas pelo ego e se responsabiliza pelo o que esta acontecendo com ele. A partir disso suas projeções tendem a diminuir ocorrendo uma diminuição das fantasias.

Essas mudanças podem ocorrer em cada sessão ou podem demorar semanas, meses e anos.

Em “Relações de objetos na prática clínica” Beth vem dar a importância da interpretação. Através das projeções, introjeções, identificação projetiva ocorridas com o paciente, o analista, como receptor/ continente consiga em algum momento sair dessa relação como o terceiro edípico, virar apenas um observador e formular sua interpretação através do contexto geral.

O analista ocupa um lugar na situação total que deve ser interpretado. Isso diferencia qualquer terapia de psicanálise 

Roger Money
Roger Money também teve grande contribuição quando trata de contratransferência. No artigo escrito “Contratransferência normal e alguns de seus desvios” relata que a contratransferência é o sentimento do paciente transferido ao analista e pode ser útil para as sessões de análise.

A contratransferência normal quando o analista reconhece nele mesmo o conflito do paciente e através da empatia consegue interpretar, ou seja, é preocupado com o paciente sem envolver-se emocionalmente em seus conflitos. Possuem tendências reparadoras de interesse parental.

A contratransferência não normal seria a patológica, o analista não consegue reconhecer e observar o conflito do paciente, portanto passa atuar na transferência. Partes do self quando na posição esquizoide se torna persecutória e como consequência teria uma contratransferência sádica. Quando se encontra na posição depressiva o analista passa a querer reparar onipotentemente seu paciente.

O analista deve se alto conhecer suficiente para se identificar ou reconhecer esses aspectos no paciente.

A contratransferência no setting, acredito hoje ser a principal ferramenta para o trabalho do analista, pois tudo o que o analista sente pelo paciente pode ser transformado em algo de extrema importância e resultar em grandes interpretações que colaboram muito para o desenvolvimento do paciente. 

Irma Pick
Irma Pick escreve o artigo “Elaboração na Contratransferência” e levanta a questão sobre contratransferência normal e patológica. Ela afirma que a interpretação é um ato temido tanto pelo analista quanto para o paciente, pois é difícil se colocar na posição de observador.

Deve-se acolher uma experiência e vivenciá-la através da empatia gera uma interpretação, portanto impossível não existir uma implicação emocional.

Irma diz que existe para a intepretação da identificação projetiva entre paciente e analista, uma regressão e reconhecimento e que leva o paciente a uma posição depressiva.

Diferencia uma resposta contratransferência de uma interpretação. Na interpretação deve-se formular uma resposta de uma maneira ética, porem colocando o paciente junto ao analista.

Traz-nos também que o par analítico pode usar varias maneiras de se protegerem, exemplos quando o paciente se coloca no lugar de pai e mãe e o analista no lugar de filho, quando o analista se torna onisciente, quando ambos negam conhecimentos desagradáveis ou ainda podem se proteger das pulsões sádicas e suas defesas. 

Edna O´Shaughnessy
Em “O complexo de Édipo Invisível”, Edna informa que o Complexo de édipo nunca foi tão importante quanto os psicanalistas acreditavam. Acredita que ocorre uma cisão na personalidade onde o núcleo do édipo e castração vira um pedaço do self que precisa ser protegido. Isso é um acontecimento importante, pois, seria uma antidote contra o narcisismo e é o que faz a ligação ao outro.

Acredita que o Édipo arcaico de Melanie Klein ajuda a entender o complexo de Édipo hoje. E sentimentos sentidos hoje; como exclusão, separação, estar só na presença do outro, cisão sexual, tem origem no Édipo arcaico.

Edna nos informa que esses sentimentos sempre estiveram presentes no paciente e caso o analista não consiga enxergar de forma clara está na presença do Édipo Invisível. Esse édipo estaria esperando uma oportunidade para aparecer. 

Herbert Rosenfelt
Rosenfeld no artigo “Uma abordagem clínica para a teoria psicanalítica” elabora uma organização narcísica, onde mostra que alguns processos de pulsões de vida e de morte são separados ou ainda não chegam a serem fundidas, diferentemente de como Freud nos dizia.

Essas pulsões de morte livres no sistema formam um self, onde pequenos selves são formados do grande Self (organização narcísica). Essa organização narcísica vai estabelecer uma relação patológica com o Self Libidinal (ligado às pulsões de vida), podendo subjugá-lo, ameaçá-lo e ainda jogá-lo para o meio ambiente através da identificação projetiva. Todo esse movimento dá vazão para a inveja, ganhando também uma organização, um self próprio, pois a organização narcísica é uma defesa contra o medo da dependência.

Concluo esse trabalho afirmando ser de suma importância os estudos de todos os psicanalistas da escola Britânica, pois cada um deles possui algo a acrescentar das teorias já estudadas. A inveja, transferência, contratransferência, identificação projetiva, relações de objetos, o édipo invisível, todos os temas abordos são bastante enriquecedor para a prática psicanalítica.