Por Sérgio Rossoni -
"A contratransferência costuma ser considerada como um dos conceitos fundamentais do campo analítico, ao mesmo tempo que a sua conceituação é uma das mais complexas e controvertidas entre as distintas correntes psicanalíticas”. David Zimerman – Cap. 21 – Contratransferência – Fundamentos Psicanalíticos.
A contratransferência é um instrumento de trabalho do analista. Existem duas visões Psicanalíticas sobre ela: Uma repetição do analista; atuação do analista, e o sentimento do analista pelo analisando. Algumas contratransferências básicas são: uma visão pré-concebida do ser humano; Como o ser deve ser, se relacionar; Uma admiração exagerada baseada em uma transferência materna/paterna; Erótica.
Abordando esta última, Freud defende a ideia de que a contratransferência não deve ser utilizada dentro do setting. Sua definição de contratransferência é: “sentimentos e reações neuróticas inconscientes do analista de característica resistêncial (pontos cegos), configurando-se em um obstáculo ao trabalho analítico e, portanto, deveriam ser evitados ou removidos” zaslavsky, Jacó (capítulo 2) tendências do conceito de contratransferência até os anos de 1970-contratransferência: teoria e prática clínica. porto alegre: Artmed, 2006.
No decorrer do assunto, várias opiniões se distinguem do conceito Freudiano, como por exemplo a apresentada por Jacó Zaslavsky em seu livro “Contratransferência: teoria e prática clínica” de que “A contratransferência permite que o analista escute, por meio de seus sentimentos, não só o que o paciente diz, mas, mais ainda, o que ele não diz, por ignora-lo no plano do consciente” ZASLAVSKY, JACÓ [Ogs] Contratransferência: teoria e prática clínica. Porto Alegre: Artmed, 2006. (Capítulo 2).
Também conhecida como identificação projetiva (termo introduzido por M. Klein), campo analítico, encenação, terceiro analítico, a contratransferência possibilita uma interação entre analista/analisando.
Rosenfeld (1947) descreveu um fato clínico onde ele conseguiu entender uma paciente psicótica pelos sentimentos próprios dele.
“Bion observou em seus trabalhos que a identificação projetiva também tinha a função de uma forma de comunicação primitiva, não-verbal, pelos efeitos da contratransferência. Nos últimos tempos, Bion assumiu a posição de que a contratransferência é um fenômeno inconsciente, não podendo ser usado conscientemente pelo analista durante a sessão. Preferia entender o fenômeno transferêncial-contratransferencial pelo seu modelo continente-conteúdo, cuja função do analista é acolher, transformar e devolver as identificações projetivas que o paciente viu-se obrigado a emitir dentro dele. ”David Zimerman – cap. 21 – Contratransferência – Fundamentos Psicanalíticos.
A contratransferência não se refere apenas aos sentimentos do analista na sessão, mas significa a utilização, de forma ampla, da subjetividade do próprio analista/terapeuta/clínico para a compreensão mais ampla e profunda do seu paciente. Zaslavsky, Jacó (cap. 2) tendências do conceito de contratransferência até os anos de 1970-contratransferência: teoria e prática clínica. porto alegre: Artmed, 2006.
Madeleine e Willy Baranger lançam o conceito de "campo analítico", derivado de ideias como transferência, neurose de transferência, a própria evolução do conceito de identificação projetiva, contratransferência, situação analítica, segundo olhar, pressupostos básicos de Bion e fantasia inconsciente.
O analista, apesar de sua neutralidade, intervém como parte integrante do processo". Zaslavsky, Jacó (capítulo 2) tendências do conceito de contratransferência até os anos de 1970-contratransferência: teoria e prática clínica. porto alegre: Artmed, 2006.
“Podemos perceber a contratransferência através de um mal-estar, e o primeiro passo deve ser tentar compreender qual o papel que o paciente tem na sua gênese, tomando cuidado, nesses momentos, para não fazer uma interpretação "expulsiva", apenas para nos livrarmos desse mal-estar, como alerta Manfredi (1994).” Zaslavsky, Jacó (cap. 2) tendências do conceito de contratransferência até os anos de 1970-contratransferência: teoria e prática clínica. porto alegre: Artmed, 2006.
A contratransferência é considerada como o resultado de uma interação entre o inconsciente do analista com o inconsciente do analisando, interagindo entre si. “Enquanto alguns conceitos levam a crer que a parte mais importante da contratransferência é inconsciente, sendo reconhecida somente a partir de seus derivados conscientes, alguns psicanalistas acreditam que é possível que o terapeuta perceba conscientemente, mesmo durante a sessão, os efeitos contratransferências nele despertados, e fazer um proveitoso uso disso.” David Zimerman – cap. 21 – Contratransferência – Fundamentos Psicanalíticos.