Por Ale Esclapes -
Para essa mulher o casamento dos sonhos seria um marido que discutisse a relação, que conversasse antes e depois do sexo, que lhe levasse para jantares fantásticos nos melhores restaurantes da cidade, lhe surpreendesse com flores e chocolates, e lhe dissesse que a ama pelo menos três vezes ao dia.
Gustavo* tem 40 anos, e veio fazer terapia para tornar-se um homem melhor. Seu casamento estava muito mau. A bastante tempo sua mulher não lhe dirigia atenção, e quando isso acontecia, era somente para realizar cobranças. Não aguentando mais esta situação, ele preferia ficar no escritório até bem tarde – assim pelo menos não precisava encarar o mau humor da esposa. Ressentia-se muito por estar distante dos dois filhos. Procurava compensar dedicando-lhes totalmente os finais de semana. Também lhe servia para ficar longe da esposa chata. No início era difícil falar das amantes, mas aos poucos adquiriu confiança e foi-lhe mais fácil falar delas.
Mas uma culpa implacável o atormentava. Sentia que seu casamento não era bom por sua causa, e queria reverter esse processo. Queria que a terapia o ajudasse a ser um pouco mais aquilo que a esposa esperava dele.
Esse pequeno quadro mostra as duas faces de um mesmo contexto chamado casamento. Um casamento em pedaços. Enquanto um procurava um apoio na realidade para suas fantasias infantis de Cinderela, o outro procurava um apoio para seu profundo medo de estar sozinho no mundo.
Sandra precisou aprender que seu marido não era o príncipe encantado, não lhe levaria aos céus, e que preferia fazer sexo a falar de sexo. E que fugia do sexo porque a Cinderela foi feliz para sempre, mas em nenhum trecho da estória estava escrito que ela teria que deitar-se com o príncipe encantado. Que seu desejo era de um casamento infantil, baseado nas suas brincadeiras casinha. Brincar é bom quando se é criança, mas não quando se é adulto.
E principalmente: teve que aprender a renunciar a suas fantasias em detrimento a realidade – e não adiantava culpar seu marido por isso.
Gustavo teve de aprender a assumir sua condição de ser solitário no mundo, e estava revivendo uma fantasia tão infantil quanto a de sua esposa: a do garoto desamparado que precisa fazer o que mamãe quer para que ela o ame. A ironia desse casamento é que não existem contos de fadas, e ele nunca iria conseguir transformar seu casamento num. Era avassalado pela culpa – de não ser um marido perfeito, de ser infiel, de não se dedicar aos filhos, etc...
Equalizar esses desejos, não permitir que seus respectivos medos e fantasias não transbordasse para a relação foi essencial para salvar o casamento e permitir que eles pudessem desfrutar do que esse casamento poderia trazer de bom. Este não poderia ser um conto de fadas e nem salva-los da solidão do mundo, mas tinha muitas coisas boas.