Por Sérgio Rossoni -
“As pessoas e as coisas não nos perturbam, nós é que perturbamos a nós mesmos acreditando que elas possam nos perturbar”. (Albert Ellis – fundador da Terapia Emotiva Racional)
“Não existe nada bom ou ruim, o pensamento é que torna as coisas assim”. (Shakespeare)
“Nós nos tornamos aquilo em que pensamos o dia inteiro”. (Ralph Waldo Emerson - escritor, filósofo e poeta estadunidense)
“As pessoas são tão felizes quanto suas mentes acreditam que são” (Abraham Lincoln)
Estas frases de ilustres pensadores refletem com bastante clareza a minha ideia daquilo que venho escrevendo sobre o pensamento, e de como somos responsáveis a partir dele, por tudo em nossas vidas.
Uma frase muito interessante dita por Alfred Bion, psicanalista britânico pioneiro em dinâmica de grupo, mostra como o pensar exerce papel primordial em nosso mundo externo, colocando a mente como o maior inimigo do homem.
Quando colocado desta forma, parece um horror. Como assim? A mente é nossa pior inimiga?
Quando regada por formas pensamento que acabamos nutrindo muitas vezes do coletivo externo, ou de nossas introjeções, sim. Por isso tenho escrito muito sobre o tipo de pensamento que nutrimos de forma incondicional, sem levar em conta os resultados práticos no corpo e nas ações externas.
Nutrimos uma série de ideias que vivem impregnadas em nossa mente feito amebas – formas pensamento criadas a partir da crendice externa e interna, e que ditam todo o tempo o que fazer ou não de forma bastante crítica. O superego freudiano poderia ser comparado a elas, formando internamente regras e condutas que de certa maneira, equilibrada através de uma exausta negociação entre Ego e Id, nos fazem permanecer nos trilhos do equilíbrio (na medida do possível).
Contudo, sendo o pensamento uma forma material (pois molda a matéria ao nosso redor), cabe examinarmos agora algo de grande importância – a qualidade.
Isso mesmo.
É na qualidade de formas absorvidas que determinados a criação de uma série de pensamentos obsessivos, agressivos, temerosos e repletos de defesas gerando regras infinitas de conduta, postura, anulando muitas vezes por completo a força de expressão do nosso espírito, ego, alma, etc.
Formas pensamentos podem ser frutos de uma herança filogenética, somada a visão pessoal e introjeção do mundo externo – poderia até mesmo citar aqui Melanie Klein em relação à introjeção de objetos maus – tornando nossa vida um verdadeiro inferno.
Vivemos em conferência com estas formas muitas vezes captadas do coletivo, e que no fundo, nem mesmo representam nossa essência interna.
O medo, a negatividade, a agressividade, acabam por gerar crostas mentais onde nos tornamos intolerantes com a vida, negativos, cansativos e imensamente chatos para nós mesmos.
Se fizer sol é ruim; se chove também; Se ganhou algum dinheiro inesperado, é melhor escondê-lo antes que apareça aquele parente interesseiro; Se não ganhou dinheiro nenhum, é porque dinheiro não dá em arvore; A vida é uma luta; Desconfie de todos...
Enfim, uma série de ideias que estão todo o tempo criticando não apenas o externo, mas bombardeando e anulando você mesmo.
Lembrando que, pensamento é forma, nos tornamos aquilo que pensamos, ou seja, podemos com o tempo nos tornar uma grande e irritante ameba.
Mas como fazer com estas formas pensamento que não param de agir tentando controlar tudo e todos?
A resposta é: Nada!
Isso mesmo, nada.
Cada vez que eu reajo a elas, mais e mais entro em conflito alimentando-as de certa maneira.
Entender que o mundo e as pessoas não estão aqui para me servir, e que determinadas situações fogem ao meu controle, já é uma boa maneira de agir transformando a qualidade do pensar.
Quando não reagimos ao briguento, ele acaba desistindo e vai embora.
Formas pensamento são parecidas. Na medida em que eu as escuto, convicto de que tal pensamento é apenas fruto de uma série de ideias negativas e que não necessariamente representam a minha realidade, elas começam a perder a força dando lugar a novas ideias permeadas na realidade de fato, e não em idealizações fruto de nossas crendices fantasiosas.
Note que eu não estou dizendo como devemos ser otimistas ou pessimistas. Só estou dizendo como é possível alterar nossa ótica das coisas a partir de uma análise interna, começando pelo que de fato acreditamos.
Prestar atenção se determinado pensamento, regra, é mesmo seu, ou é apenas fruto de algo coletivo? Essas crenças são minhas ou dos meus antigos familiares?
Olhar e analisar se aquilo que permeia nossas ideias são frutos da nossa condição interna ou não.
Avaliar a qualidade destas ideias, regras, e como elas atuam em nossas vidas – positiva negativa...
Por fim, não reagir a crítica interna, observando se aquilo realmente faz sentido – observando o quanto estas amebas nos impõe regras e mais regras minando a facilidade do viver, preferindo consolidar a ideia de que a vida é duraaaaaa – daí um consolo para nossa crise interior, aceitando esta ideia como verdade absoluta.
A vida não é dura – é você quem determina isso como verdadeiro para você mesmo. Acho que já disse isso antes.
Trabalhe seus pensamentos visando mais saúde, psíquica e física.
Diante daquele problema que parece não ter solução, escute as imposições das suas amebas, mas sem reagira elas, compreendendo que são frutos do próprio medo e da falta de confiança nos processos da vida.
É incrível como com o tempo e exercício, essas vozes vão se calando, as imposições vão se dissolvendo, e as soluções para problemas imensos vão surgindo quando assumimos nossa impotência diante deles, deixando que a vida atue sem a interferência das nossas amebas que sempre travam tudo.
Repare na sua vida. Eu tenho a certeza de que agora você se lembrou de uma série de acontecimentos onde, quanto mais você metia a mão, mais a coisa toda travava.
Pensar é um grande exercício. Não paramos para avaliar isso. Introjetamos tudo ao nosso redor e seja o que Deus quiser.
Se não puder agir sozinho, busque ajuda, mas pare agora de escutar suas amebas.
Até.