Por Ale Esclapes -
Hoje, dia cinzento e frio em sampa, decidi por escrever artigos. Parece que escrever artigos é coisa de gente preguiçosa, mas a escrita exige uma certa reclusão que um dia assim proporciona. A partir daí tive a ideia de escrever sobre o programa Café Filosófico (atenção nobre leitor, pois isso é muito perigoso, pois quem tem ideias são os idiotas, mas se quiser seguir em frente, é por sua conta e risco).
Lembro de um dia que se falava sobre os limites na criação de nossos filhos, figuras paternas, complexo de Édipo e todo o arcabouço psicanalítico para a questão. Despois que o orador discorreu por uma hora sobre o tema, dando um cenário quase que fatídico, meio deprimente até sobre as novas gerações, a falta do limite, a psicose, etc... veio a parte de perguntas. A primeira pergunta foi: “o que fazer?” Bingo!
O apresentador, meio constrangido não respondeu. Divagou que isso passava pelo poder público, pela estrutura da família, etc... e não respondeu, em sequer deu uma luz sobre o assunto. Se o “gosto amargo de fel” estava na boca depois de uma oratória que só faltou falar do apocalipse causado pela falta de limites na sociedade, a coisa ficou pior.
Essa situação ficou maturando na minha cabeça por quase um ano, até que pudesse formar uma opinião (provisória, claro) sobre a situação. Daí algumas reflexões:
1) O discurso psicanalítico corre sempre um sério risco de escorregar para uma ideologia. A ideologia que temos, ou nossos pacientes têm de chegar na posição genital, ou na depressiva, ou pós depressiva, ou maturar (até parece que self é fruta), se deparar com o vazio (sem a esperança de Winnicott – Deus me livre), e por aí vai.
2) Quando esse discurso escorrega para a ideologia, somente cabe uma pergunta do tipo: “o que fazer?”, pois imediatamente surge o desejo de se realinhar com a ideologia, como se fossemos menores (não precisa muito para um neurótico se sentir menor) e precisássemos de uma “cura ideológica”.
3) “Explicação só é boa para quem explica!” Assim dizia o avô do Armando Colognese. De que adianta explicar alguma coisa? Ou melhor, do que adianta explicar algo que não tem solução? Essa frase teve um profundo impacto em mim, na minha forma de clinicar, e na minha forma de escrever. Explicar algo cujo resultado tenha como sobra um sentimento de culpa ou vergonha, não serve para nada. Se servir como um Lexotan então, piorou.
Diante de tudo isso proponho a reflexão sobre os limites do discurso psicanalítico. A sociedade está ávida por um discurso ideológico que evite as culpas e responsabilidades por suas ações (isso é do humano, logo não tem conserto, logo gostaria que isso não fosse levado para o lado ideológico), mas cabe aos psicanalistas tomarem cuidado para que a psicanálise, suas propostas e suas teorias não se tornem ideologia de massa. Freud já deve ter nos alertados sobre isso em algum lugar, ou vários, mas deixo ao leitor o deleite de descobrir isso.