Por Sérgio Rossoni -
Classe de neuroses que apresentam quadros clínicos muito variados. As duas formas sintomáticas mais bem identificadas são a histeria de conversão, em que o conflito psíquico vem simbolizar-se nos sintomas corporais mais diversos, paroxísticos ou mais duradouros, e a histeria de angustia, em que a angustia é fixada de modo mais ou menos estável neste ou naquele objeto exterior (fobias).
Pretende-se encontrar a especificidade da histeria na predominância de um certo tipo de identificação e de certos mecanismos (particularmente o recalque, muitas vezes manifesto), e no aflorar do conflito edipiano que se desenrola principalmente nos registros libidinais fálico e oral”. – Laplanche e Pontalis – pág. 211 – Vocabulário de Psicanálise. O histérico testemunha um intenso amor materno por parte de sua mãe, porém, inconscientemente, existe uma recusa por parte do self materno do desejo pelo corpo sexual do bebê. Os genitais causam repulsa e estranheza nesta mãe que pretende ver em seu filho, somente uma espécie de ser assexuado. Na identificação posterior, o histérico(a) vai buscar seu significado para sua mãe, representando então aquilo que acredita ser o desejo da mãe.
Na época em que ocorre a epifania sexual, onde a criança descobre que o mundo é constituído por objetos sexuais a partir de seus impulsos libidinais, enquanto para a criança não histérica sua mãe passa a ser vista não mais como objeto materno, mas principalmente como objeto de desejo, para a criança histérica a sexualidade torna-se uma ameaça diante da relação mãe-bebê. O histérico vai dessexualizar sua mãe, persistindo na ideia original do desejo materno. O pai torna-se o grande vilão no período edípico. Aquele que ameaça esta relação perfeita de conto de fadas, onde somente existe uma espécie de pureza histérica. Posteriormente, a criança histérica aceitara o pai, na medida em que é impossível não aceita-lo, já que este é de fato o marido de sua mãe, porém, criará a imagem de um pai igualmente dessexualizado.
O histérico irá lutar para preservar a criança inocente, opondo-se ao crescimento do self, criando a imagem de uma mãe “Madona”, e tornando-se o garotinho(a) perfeito(a), atendendo assim ao desejo do outro. Este outro, sua mãe ideal, repudia por completo a sexualidade e deseja seu garotinho(a) eterno. Logo, na phantasia histérica, o ser vive representando este papel. Ocorre uma espécie de substituição da satisfação sexual pela satisfação sagrada, santificada. O gozo é algo que eleva seu espírito ao céu. Cristopher Bollas em seu livro “Hysteria” descreve que “Fazer amor para o histérico implica em uma troca do corpo pela alma”. Ainda em seu livro “Hysteria”, Bollas descreve: “Amor do histérico é a preocupação autoerótica projetada no outro, e logo, que esse outro se destaca da figura ideal na mente, vem a decepção. Não compartilha conhecimento erótico – o outro é uma figura com quem se masturba.
Buscam nas preliminares a finalidade da sexualidade. Sua satisfação esta ligada a frustração e desistência”.
O corpo passa a ser um objeto erótico do histérico. Sua satisfação sexual esta nas preliminares, uma vez que sua mãe repudiou seu órgão genital e de certa forma distribuiu este desejo sexual para outras partes do corpo. O cuidado excessivo com o corpo pode representar a construção deste personagem autoerótico, que seduz, eleva-se aos céus como ser puro e mantém sua relação infantil representando o personagem criado pelo desejo de sua mãe.
David Zimerman descreve algumas características clínicas do histérico: “Existência de uma mãe histerogênica – próxima e distante, dedicada e indiferente; Usa a criança como uma vitrine sua para se exibir aos outros; Projeta nos filhos sua própria estrutura histérica. Meninos: as mães são sedutoras; desenvolvem um clima de expectativas narcisistas Meninas: Pai sedutor e frustrador ao mesmo tempo; Ansiedades existentes: angustia de castração; cair em um estado de desamparo; baixa autoestima; medo da perda do amor dos pais ambíguos entre outra”. (David Zimerman – Histeria – Manual de técnica Psicanalítica)
J.D. Nasio define histeria como um desejo sexual infantil vivido na cabeça de um adulto e cujo objeto não é um homem ou uma mulher, mas uma criatura forte ou fraca. O histérico vive seu parceiro como uma criatura castrada e onipotente, e não como um homem e mulher. Complementa dizendo que a histeria sofrida por um adulto foi provocada outrora por um violento abalo ocorrido em sua sexualidade de criança. (J.D. Nasio – Édipo)
Para o histérico, o mundo é cruel, privando-o das coisas boas. Assim, coloca-se sempre na posição de vitima e mártir. Seu objeto bom está internalizado. O mundo externo contém os objetos maus. em seu livro “Édipo”, J.D. Nasio define Falo para a mulher como “medo de deixar de ser amada’. O histérico resolve esta questão representando seu personagem assexuado, como uma criança pura e perfeita, obtendo assim o amor eterno de sua mãe “madona’.