Por Patricia Castro e Mauro Costa -
O longa metragem turco O milagre na cela 7, do diretor Mehmet Ada Öztekin, é um remake de um filme coreano de 2013. A versão ambientada na Turquia retrata o drama de um pai (Memo) que foi separado da filha pequena (Ova) ao ser preso injustamente e condenado à morte pelo assassinato de uma criança, filha de um militar de alta patente.
O drama traz uma carga emocional intensa capaz de nos arremessar sucessivas vezes para lados opostos. Tal experiência pode ser comparada a embarcar numa montanha russa emocional onde momentos de inocência, ternura e carinho se alternam com discriminação, maldade e violência.
A experiência de Memo na prisão nos faz refletir em como a percepção humana pode sofrer transformações a partir de uma outra maneira de olhar para a mesma situação, como no caso de quando Memo chega na prisão e ao ser revelado o seu crime é recebido pelos companheiros de cela como um monstro que assassinou uma menina de 5 anos. Com a convivência e a observação, esse olhar vai sendo transformado, primeiro em dúvida sobre se ele seria capaz de assassinar alguém e depois em certeza que seria impossível que Memo cometesse tal crime. Essa relação de Memo e seus companheiros de cela, nos propicia a oportunidade de refletir sobre a complexidade do ser humano, que é capaz de cometer atos extremados tanto negativos quanto positivos. Tais companheiros ao mesmo tempo que cumprem pena por cometerem crimes diversos, demonstram empatia à Memo, revelando um lado fraterno, bondoso e justo.
O filme também nos provoca a pensar sob a ótica de outros personagens como a do antagonista, o pai da menina morta, que acusa Memo de ser o assassino da filha. O personagem é apresentado como um sujeito que não mede esforços para que o acusado da morte da filha seja punido e para isso utiliza de toda a sua influência de militar de alta patente. No entanto, se fizermos uma mudança de vértice podemos olhar para a enorme fragilidade emocional deste pai, evidenciada na sua impossibilidade de aceitar que a morte da filha tenha sido acidental e, ainda, na necessidade de encontrar um culpado ou até mesmo de colocar a culpa em alguém como forma de aplacar a sua dor, apesar das evidências quanto à inocência do acusado.
O milagre na cela 7, para além de todo o seu drama, nos provoca algumas questões para reflexão como: Quem está doente? Qual é a doença dos “normais”? O que é suportável para cada um? Quais são as nossas limitações? Quais são as implicações de ser o que se é?
Resenha elaborada por Mauro Costa e Patrícia de Pádua Castro, fruto da troca de diversas impressões dos integrantes do Grupo Psicanálise em Cena da EPP - Escola Paulista de Psicanálise. Compartilhar olhares e emoções acerca de um filme é uma experiência que expande a nossa capacidade de pensar e sentir na medida que abre outros vértices para observação, promovendo um repensar e um ressentir que estimulam e potencializam nossas emoções.
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Direção: Mehmet Ada Öztekin
Plataforma: Amazon Prime Vídeo