Por Fernanda Hisaba -
"É o décimo sétimo dia em que não consigo dormir".
Esse é o início do conto “Sono”, de Haruki Murakami, a “pedra de tropeço” que nos faz colocar temporariamente de lado convenções para que possamos ampliar o olhar, nesse caso, para o íntimo, o interior, aquilo que não dorme em cada um de nós.
Murakami nos convoca a essa digressão, nos implica a todos, quando não dá nome aos personagens da trama que se desenrola em nossos estômagos.
O autor nos transporta, através do olhar de uma mulher comum, que leva uma vida comum, casada com um homem comum e um filho comum, a um absolutamente incomum mundo insone, que mescla fantasia e realidade e nos desperta para a investigação dos recursos de que dispomos para nos desvencilharmos disso que nos é “comum”.
Além disso, a prosa de Murakami é excepcionalmente elegante e poética. Ele utiliza uma linguagem simples e direta para descrever ações cotidianas, mas também usa metáforas e símbolos para transmitir ideias mais profundas e complexas.
A protagonista encontra refúgio em uma “incapacidade para dormir”, ou talvez em uma “capacidade para não dormir”, surrupiando ao sono a sedação e colhendo energia de pequenos prazeres esquecidos em sua vida cotidiana: um cálice de conhaque, um pedaço de chocolate, e uma vida “extraconjugal” extraída do romance Anna Karenina, de Tolstoi, como pano de fundo para o não cotidiano que a insônia apresenta.
Em resumo, "Sono" é um conto que explora a condição humana de uma maneira única e fascinante. Murakami nos leva em uma jornada emocionante que é ao mesmo tempo surpreendente e profundamente comovente. Se você está procurando uma leitura que o faça refletir sobre a vida e a existência, "Sono" é uma excelente escolha.
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Autor: Haruki Murakami
Editora: Alfaguara