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Como escolher um curso ou formação em psicanálise?

Como escolher um curso ou formação em psicanálise?

Por Ale Esclapes e Marcelo Moya - 

Esse artigo é para você que não tem nenhuma informação sobre essa área, ou que já fez uma pesquisa e não entende as razões de uma Formação em Psicanálise ser oferecida por instituições com investimento total que pode superar R$ 100 mil, e outras com valores que chegam a ser oferecidos em até 12x de R$99,00. 

Mas antes disso é preciso compreender um aspecto fundamental: o que é psicanálise e como se forma um psicanalista. Vejamos...

I) O que é psicanálise e como se forma um psicanalista?

A psicanálise é um método de exploração do Inconsciente criado por Sigmund Freud no início do século passado. Desde então ficou estabelecido que a formação de novos analistas seria feita por instituições destinadas a esse fim, e que seguissem o chamado tripé psicanalítico, a saber, análise pessoal, teoria e supervisão; essa formação deve ser contínua, ou seja, o analista sempre se sustentará neste tripé psicanalítico através de uma instituição.

Até agora o leitor deve guardar estes dois conceitos: Instituições e Tripé Psicanalítico.  As Instituições são organizações fundadas especificamente para a transmissão ou ensino da psicanálise para os futuros analistas e para os já formados permanecerem no tripé psicanalítico.

Outro ponto importante a ressaltar, é que ao longo dos anos foram surgindo “formas” distintas de se exercer a psicanálise, com o mesmo objetivo (a exploração do inconsciente), mas com diferenças metodológicas e epistemológicas. Embora as escolas psicanalíticas sejam em essência, freudianas, existe uma diversidade de métodos. Um exemplo disso é Escola Inglesa ou Britânica, com três diferentes formas de se conduzir uma análise: a kleiniana, a winnicottiana e a bioniana. Todas são válidas, e requer um treinamento específico para cada uma delas. Existe também a Escola Francesa, Uruguaia, Americana, entre outras. Cada uma dessas Escolas tem formas diferentes de conduzir uma análise e o processo de formação, logo, um tripé próprio.

Quanto a parte teórica, cada Escola também vai ter um recorte de certos autores que se complementam para dar coerência e consistência na formação. Não se aprofunda em Bion, por exemplo, quem estuda a Escola Francesa (onde dificilmente se estudará Bion), e na Escola Inglesa praticamente não se estuda Lacan (Escola Francesa). Isso ocorre por um motivo muito simples:  durante o período de uma formação não há tempo suficiente para se estudar adequadamente diversos autores ao mesmo tempo. Uma leitura adequada de um autor específico exigirá muitas horas de esforço e pode demorar anos.

É por essa, entre outras razões, que a psicanálise não é uma profissão regulamentada*, pois cada Instituição mantém seus próprios critérios, o que não torna possível estabelecer uma padronização a exemplo do que ocorre nos cursos superiores das universidades.

Outro ponto importante é que o tempo do Inconsciente não é cronológico (do relógio). Não se pode precisar exatamente quando um aluno/candidato terá condições analíticas para o atendimento, nem quando seu treinamento estará completo. Isso não depende da Instituição, mas do Inconsciente deste candidato/aluno. Uns demoram mais, outros menos, alguns chegam prontos nesse quesito e outros nunca estarão preparados. É um fator imponderável, onde o próprio aluno, desde que não sofra de arrogância e/ou onipotência graves, conseguirá perceber por si mesmo se está ou não preparado. Mais um motivo pelo qual a Formação não pode ser padronizada ou regulamentada como uma graduação acadêmica.

Outro aspecto de suma importância é que a psicanálise dispensa a necessidade de “conselhos profissionais de classe” ou emissão de “carteirinhas de psicanalista” como é no caso de médicos, dentistas, psicólogos, etc. Os psicanalistas são reconhecidos pelas Instituições onde estão ligados desde a formação. É por isso que sempre logo após o nome de um psicanalista sério, constará a Instituição que ele pertence, atua, contribui e se mantém no tripé.

II) Algumas questões éticas importantes sobre a formação em psicanálise

a) A Instituição fornece além da Formação/Curso, um processo de ensino continuado para que o futuro analista se mantenha no tripé?

Como os métodos de formação entre as escolas são distintos, é bastante improvável que um psicanalista formado por uma determinada instituição seja aceito para cursar uma formação continuada em outra instituição. Além do mais, é uma instituição “viva” onde seus participantes se ajudam mutuamente e promovem o crescimento do grupo? São oferecidos cursos, grupos de estudos, jornadas, colóquios, publicações, processos de supervisão? São alguns dos critérios importantes na hora de escolher onde se pretende fazer uma formação em psicanálise

b) E quanto a parte da análise pessoal e supervisão do tripé?

Um ponto que merece devida atenção é que certas instituições até dizem que seguem o tripé, mas na verdade o que elas acabam fornecendo são apostilas e aulas gravadas, deixando a cargo do aluno a busca do analista e do supervisor. Aqui surgem algumas complicações, pois você pode simplesmente escolher um profissional com formação duvidosa como analista ou supervisor. Um analista formado durante 3 a 5 anos em uma Instituição idônea certamente possui um preparo de qualidade bastante superior se comparado com quem simplesmente se aventurou em algum curso de psicanálise de seis meses ou um ano.

Aqui entra um outro tema: o preço de um bom profissional formado em uma boa Instituição não é o mesmo do que se aventurou em um curso superficial. E mais ainda, sendo um supervisor sério do ponto de vista ético, não irá aceitar treinar um aluno que se aventurou em um curso de tão curta duração. Também é comum que um supervisor só aceite alunos da mesma Instituição, e portanto, a tendência nos cursos de curta duração é que o aluno tenha muita dificuldade de conseguir fazer análise ou supervisão de qualidade, influenciando diretamente no nível de competência do futuro profissional.

Considerando que se consiga fazer uma análise e supervisão de qualidade, mas existe a questão da coerência entre o que se estuda teoricamente e os métodos de análise a supervisão. Pode ser que o projeto pedagógico foi baseado em Lacan, a análise pessoal tenha sido kleiniana e a supervisão bioniana. Que ótimo, podemos imaginar, ter contato com todas as vertentes, mas isso é falso, e não faz mais que criar confusão na construção do método do aprendiz.

Nada impede que com o passar do tempo na carreira seja possível ampliar o leque de autores estudados, mas durante a formação especificamente isso é muito prejudicial, dando a impressão de se consumir produtos de prateleira, onde se escolhe o que quer conforme a conveniência, o que deteriora o método psicanalítico de dentro para fora. Por isso a importância de se escolher um profissional da Instituição onde se pretende iniciar a formação. E qual será o investimento necessário para uma análise e supervisão de qualidade? Isso deve ser levado em consideração, pois você pode estar adquirindo apenas um amontoado de apostilas e muita dor de cabeça. É aqui que entra o papel idôneo da Instituição psicanalítica, que implica em poder garantir aos seus candidatos a coerência mínima entre a teoria, análise e supervisão.

c) E quanto a teoria?

Estuda-se de forma profunda uma determinada vertente da psicanálise ou se passeia por várias escolas? O tempo da formação é escasso, o aluno terá a vida toda para conhecer diversos autores – o problema central não é quantos autores você conhece, mas com qual profundidade conhece. É preciso ter em mente o quão é essencial se aprofundar nos autores estudados. E um outro ponto: se tais autores são estudados por apostilas, vídeos e textos que versam sobre eles, ou se estuda o autor na fonte através de suas próprias obras.

d) E em relação a carga horária?

Existem cursos que informam cargas horárias extensas, mas que no fundo não representam nada, não são aulas de fato. A carga horária anunciada inclui as aulas ao vivo por videoconferência com interação entre os colegas em um grupo? Evidentemente que existe o tempo de preparo por parte do aluno para uma aula ao vivo, para realizar trabalhos, atividades avaliativa. O importante é avaliar o quanto da carga horária se refere a atividades extraclasse e quanto se refere a aulas ao vivo. 

Aqui é preciso ter muito cuidado, considerando que ‘o papel aceita tudo’. Repetindo a pergunta mais importante: quanto tempo da carga horária do curso se referem às aulas ao vivo por videoconferência com interação entre os colegas em um grupo? Nessa hora você percebe que muitos lugares sequer deveriam ser chamados de Instituições Psicanalíticas, pois vendem apenas apostilas e videoaulas, e a palavra tripé aparece somente como forma de dar alguma legitimidade, ou simplesmente como argumento de marketing para se vender o curso.

e) E do ponto de vista financeiro, o que é importante analisar?

Quais as atividades estão inclusas no valor da mensalidade e quais são pagas à parte? Grupos de Estudos? Processo de Supervisão? Atividades Suplementares? Quantas pessoas por grupo? (em relação as atividades ao vivo por videoconferência). Algumas instituições cobram valores de mensalidade mais baratas, mas as atividades extras acabam custando bem mais caro do que a mensalidade proposta. É importante levar em consideração o custo-benefício do que será efetivamente cobrado pela Instituição formadora.

Um lugar que oferece somente curso apostilado com videoaula gravada de baixo e nenhum custo e que apenas disponibiliza automaticamente o acesso a este conteúdo, não irá cobrar uma mensalidade semelhante à de uma outra instituição que necessita investir em diversos profissionais para condução didática dos grupos de estudos semanais ao vivo com turmas reduzidas e de outros grupos complementares à formação. Obviamente que não vai ser o mesmo valor. Por essa razão as aulas ao vivo impactam no valor do curso/formação. 
 

III) Finalizando: a responsabilidade ética

Eis alguns dos critérios básicos na hora de escolher uma Instituição para estudar psicanálise. E como toda escolha, envolve também responsabilidade ética. Ao final, cada um deve ser responsável eticamente pelo caminho que se pretende trilhar para se tornar um bom profissional, e consequentemente pela qualidade do serviço que pretende prestar ao seu futuro paciente. É ingênuo acreditar que um curso de alguns poucos meses dará um preparo semelhante à de uma formação mais extensa e estruturada.

E se você quer ser responsável por cuidar do psiquismo de um ser humano, essa responsabilidade é sua, ela é indelegável – é o que chamamos da ética do desejo e da liberdade. Esperamos ter ajudado a se cercar de alguns parâmetros antes de escolher uma formação em psicanálise. E fica o convite de visitar a página de nosso Programa de Formação em Psicanálise da EPP e das atividades do Instituto Ékatus. Veja em detalhes tudo que é oferecido, compare, e tome sua decisão. 

*O ofício da psicanálise no Brasil é reconhecido pelo Ministério do Trabalho através da CBO 2515/50, Portaria 397 de 09/10/02.