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O trabalho do sonho

O trabalho do sonho

Por Richer Bustos Olórtegui - 

O Neurologista, Sigmund Freud, continua seu percurso da descoberta da psicanalise já afastado de seus colegas Jean-Martin Charcot e Josef Breuer, também já tinha deixado a prática do método hipnótico e da pressão da mão nos doentes psíquicas da época pela precária eficácia. 

Nesses anos ele descobre um novo método de intervenção para seus pacientes que vai chamar de regra psicanalítica fundamental que é “A Associação Livre” consistindo em deixar falar ao paciente tudo o que vinha a sua mente sem criticar ou selecionar. Nesse interim os pacientes de Freud começaram também a narrar seus sonhos noturnos. Isso inspirou a ele ao estudo dos sonhos em três níveis: a revisar a literatura científica acerca dos sonhos no passado, os sonhos de seus pacientes e seus próprios que o levou vários anos, o qual foi terminado antes do virado do século XX, mas ele quis adiar sua publicação para inaugurar o novo século com o intuito de que sua obra virasse a “A Obra de Século”.

Com sua nova obra “A Interpretação dos Sonhos”, bacilar para a psicanalise, Freud começa a se aproximar a um estudo menos psiquiátrico, médico, neurológico possível do funcionamento da mente humana abrindo um novo vértice para entender a natureza da mente e seu funcionamento. Nesta obra Freud introduz um conceito fundamental para a psicanálise o “Inconsciente” (já estudado, falado nos tempos dele por outros pensadores na área da filosofia, medicina, etc.), mas graças a obra da Interpretação dos Sonhos que se instala ou se oficializa. Sendo a sua primeira grande manifestação do inconsciente: o sonho que é elementar para compreender a psicanálise, o funcionamento psíquico e o aparelho psíquico.

Freud no capítulo II de sua obra, a partir da análise seu próprio sonho a “injeção de Irma”, vai propor como método de interpretação dos sonhos o método da decifração de cada parcela do sonho, porque eles se apresentam desconexos e confusos. A ideia central de Freud aqui é que o sonho tem um sentido e podem ser interpretas longe de ser só uma atividade fragmentária do cérebro e finalmente dirá terminado o trabalho de interpretação de um sonho descobrimos que o sonho é a realização de um de um desejo recalcado.

No estúdio do capitulo VI do texto “Interpretação dos Sonhos” Freud nos adentra a todo um processo complexo de trabalho de engenharia do sonho que entram em ação nosso consciente, pré-consciente e inconsciente com os nossos pensamentos oníricos, desejos, afetos, censuras, repressões, recalques, restos infantis, diurnos etc. fazendo possível os trabalhos de condensação, deslocamento, simbolismo e dramatização para sair à tona a nosso presente como a realização de nossos desejos reprimidos desde nossa primeira infância. Aos quais Freud os divide em dois: conteúdo manifesto que seria o relato descritivo feito por cada sonhador produto do trabalho do sonho, que tem uma marca de deformação e esquecimento causada pela nossa censura deformando assim os nossos processos de lembranças como acontecem também em nossa vida de vigília e o conteúdo latente é o sentido, o significado do sonho produto do trabalho de interpretação do psicanalista com a finalidades de achar o verdadeiro significado do sonho.

Freud nos mostra, que quando dormimos, a nossa mente consciente relaxa e “abaixa a guarda” deixando agir ao inconsciente é aí que se dá os trabalhos de condensação e deslocamento. Sendo que no trabalho de condensação nosso cérebro associa os nossos pensamentos de conteúdo similar e os reproduz em um só sonho, ou seja, uma representação única representa por si só várias cadeias associativas que tem uma caraterística de síntese constituindo uma tradução resumida do trabalho onírico. Enquanto no trabalho de deslocamento, um aspecto significativo do sonho ganha menos importância e os aspectos secundários surgem com mais riqueza de detalhes. Neste processo mental a intensidade do acontecimento com maior valor psíquico é deslocada para o elemento de menor valor psíquico mostrados nos tantos exemplos de sonhos interpretados por Freud. Neste estudo é importante frisar a importância dos afetos nos sonhos na tarefa interpretativa como já disse Freud: “A análise nos mostra que o material de representações passou por deslocamentos e substituições, ao passo que os afetos permanecem inalterados”. Assim, os afetos, nesse processo onírico é o único elemento que não é alterado e por isso é de muita valia no processo de observação do tratamento psicanalítico analista – analisando e finalmente o trabalho da elaboração secundaria, que segundo Freud, acontece no pré-consciente para ajustar o conteúdo latente do sonho as necessidades da vida da vigília, dando coerência ao sonho tal como nossa vida consciente exige. Este ato é realizado ao instante de acordar. Vale lembrar que este último, partir de 1923, será retirado por Freud deste processo do trabalho do sonho para o trabalho do eu.

A grande importância dos sonhos se fundamenta como afirmara Freud “O sonho é a estrada real que conduz ao inconsciente” e porque faz possível a realização de nossos desejos recalcados no inconsciente. Encima de isso se dá o trabalho de interpretação dos sonhos com o intuito de explorara o inconsciente do paciente por meio da decifração dos sonhos procurando atingir os objetivos traçados por Freud para a psicanalise: de estabelecer no paciente sua capacidade de realizar e de gozar. Toda esta incrível engenharia do sonho existe graças a descoberta de Freud que são fruto de suas pesquisas com suas pacientes de si próprio e que é um legado para ajudar as pessoas na luta das doenças psíquicas.

Finalmente, o primeiro retorno do reprimido, conforme já temos estudado nos blocos anteriores, se dá nos pacientes histéricos através dos sintomas manifestados por eles. Esses sintomas eram na verdade, outra forma de “retorno ao reprimido” cuja técnica proposta por Freud foi a procura da origem do sintoma, no caso foi um trauma infantil. Esse retorno do inconsciente recalcado (reprimido) no processo dos sonhos é concretizado pelos deferentes trabalhos do sonho como são: condensação, deslocamento, simbolização, elaboração secundaria, esquecimento etc. que driblam a censura para materializar no sonho e manifestar-se na vida consciente cujo objetivo da interpretação é o conteúdo latente do sonho (o verdadeiro sentido do sonho). Os dos processos da descoberta freudiana são semelhantes já que têm os mesmos objetivos: de como chegar àquilo que foi decalcado, a primeira pela análise do sintoma e a segunda pela interpretação do sonho. Esse retorno do recalcado, é por excelência, fonte do material com que o psicanalista trabalha.