Por Marcelo Moya -
"Não me cabe conceber nenhuma necessidade tão importante durante a infância de uma pessoa que a necessidade de sentir-se protegido por um pai." (Sigmund Freud)
A nossa sociedade vem passando por constantes transformações e modificando as configurações das famílias através de novos modelos, mas a figura do pai nunca deixará de ser essencial, pois o seu papel é fundamental e complementar ao lado da mãe no percurso das dinâmicas familiares.
Um aspecto preocupante na educação dos filhos na atualidade é a ausência ou a inexistência do pai, ou mesmo de uma figura familiar que o substitua a contento, e que participe ativamente da vida dessa criança por meio de um vínculo satisfatório com ela no processo de crescimento.
Estatísticas apontam que mais de 70% de jovens e adolescentes em situação às margens da lei, por exemplo, cresceram sem a presença de um pai ou este não cumpriu adequadamente o seu papel. A repetência escolar é duas vezes maior entre crianças que crescem em lares sem uma presença paterna, e tem onze vezes mais chances de manifestarem comportamentos violentos na escola.
Crianças com um pai presente ou alguém que exerça este papel com efetividade, tem maior probabilidade de se sentirem mais seguras nos estudos, na escolha de uma profissão, na tomada de decisões importantes na vida, do contrário, ela poderá desenvolver conflitos de natureza emocional como personalidade antissocial, distúrbios de comportamento, insegurança, entre outros.
Pautado em algumas premissas teóricas da psicanálise, pensamos em pelo menos três considerações acerca da essencialidade paterna na formação do indivíduo a partir de suas fases iniciais de desenvolvimento e determinantes na constituição do ser.
Em primeiro lugar, o pai pode dar segurança à mãe durante sua maternidade, proporcionando a ela condições de se sentir mais protegida com seu bebê, haja vista que muito além de um suporte material, o amparo afetivo é uma forma de acolhimento diante das implicâncias que a maternidade acarreta.
Para a psicanalista Melanie Klein (1882-1960), "...o pai desempenha um papel crucial na vida da criança, principalmente se o homem está em harmonia com a sua esposa... muito do que se disse a respeito da relação da mãe com os filhos em diversos estágios de desenvolvimento, também se aplica ao pai... ele desempenha um papel diferente daquele da mãe, mas suas atitudes se complementam...", afirmou.
Uma segunda consideração, é que nesta conexão da criança com o seu pai, ela é estimulada a interagir ao seu redor e para além de seu vínculo exclusivo com a mãe. A criança necessita deste outro para começar a compreender a vida social. Na medida que ela vai notando a existência e presença deste pai, entenderá que o mundo não gira apenas em torno dela e que a mãe não é sua propriedade, cuja relação simbiótica normalmente traz consequências muito nocivas. Reconhecer esta unidade parental é importante para a estabilidade psicológica da criança e seu convívio com outras pessoas.
E por fim, o pai exerce substancial influência tanto na formação da identidade como da autoestima da criança. Se for ausente ou inexistente, outros modelos podem vir a ocupar esse vazio, com uma grande probabilidade de não serem modelos propriamente exemplares, como acontece no contexto da marginalidade e da delinquência, haja vista que a falta do pai pode desenvolver entre outras coisas, baixa autoestima, despersonalização, intolerância à frustração e sérios conflitos existenciais. Como disse certa vez o filósofo Nietzsche: "...se não se tem um bom pai, é preciso arranjar um".
A maior de todas as heranças que um pai pode deixar para os seus filhos é sua prova de amor, sua presença, seu suporte e seu exemplo. E como cantou Milton Nascimento, “...quero a utopia, quero tudo e mais, quero a felicidade nos olhos de um pai...”