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Estruturas organizacionais da sexualidade, segundo Freud

Estruturas organizacionais da sexualidade, segundo Freud

Por Raquel Casonato Rodrigues Mariano - 

É sabido que no desenvolvimento de crianças, as noções referentes ao que é um genital, o que é seu, o que é do outro, o igual e o diferente começam a se formar, entretanto, as maiores implicações dessas diferenças e de suas vivencias, vão ser consolidadas no Complexo de Édipo.

Deste modo, é importante compreender que até chegar ao Complexo de Édipo, essas noções ainda não existiam e nada disso estava claro e organizado no universo psíquico infantil. O único conhecimento que a criança tinha, era que para ambos os sexos, só existia um único genital, que era o pênis, onde o dos meninos já estavam desenvolvidos e o das meninas ainda não.

Com o desenvolvimento infantil, essas diferenças foram sendo percebidas e descobriu-se que o pênis não é um órgão comum a todos, que pertence apenas aos meninos e isso trouxe implicações psíquicas tanto para eles quanto para as meninas. A menina inicialmente nega que não tem um pênis, pensa que ele irá crescer, para depois compreender que não tem e assim sente-se castrada e isso traz um sentimento ruim, como se estivesse recebendo um castigo, punição, enquanto para o menino, possuir o pênis, ter um falo, é significado de potência, de superioridade.

Deste modo, a organização genital infantil fica entendida como o masculino e o castrado, onde a mulher inveja o pênis do homem, para só mais tarde falar em feminino e masculino. O homem por possuir um pênis, acaba sendo o sujeito, possuidor do objeto, que no caso seria a mulher, que assumiria uma posição passiva diante da ativa do homem.

Porém, o desenvolvimento da sexualidade acaba não sendo tão simplista, e vivenciando o Complexo de Édipo e suas verdadeiras implicações, essas questões podem se mostrar um pouco mais compreensíveis no Universo Freudiano.

Para compreensão do Complexo de Édipo será feita algumas considerações frente as principais diferenças entre primeira e segunda tópica do aparelho psíquico na teoria freudiana, pois quando falamos do Complexo de Édipo, pensamos em dissolução e não em término, e através da compreensão do funcionamento psíquico, podemos analisar como essa dissolução acontece e suas consequências, tendo uma muito importante que é a formação do Super Ego.

A primeira tópica, faz menção ao modelo topográfico, que consiste em inconsciente, pré consciente e consciente. Nessa tópica o inconsciente abrange o reprimido, sede das pulsões, onde o conteúdo latente se encontra e é movido pelo princípio do prazer, o pré-consciente é separado do inconsciente pela censura, deste modo, os conteúdos inconscientes para tornarem pré-conscientes precisam ser transformados. Já o consciente encontra-se na superfície do aparelho psíquico e está ligado ao mundo externo e interno, tem ligação com o EU, com suas emoções, lembranças que estão no pré-consciente e que é acessível. O conflito desse modelo implica na pulsão que se encontra no inconsciente e a instância da censura, na consciência, e que para ser manifestada precisará passar por formação de compromisso no pré-consciente e ser manifestado de forma deformada através de atos falhos, sintomas, chistes, sonhos, transferências, etc... Através das manifestações do retorno do reprimido é possível trabalhar com esse material na psicanálise, tentando trazer o inconsciente mais próximo da consciência. Já a segunda tópica, Freud trabalha com o modelo estrutural, onde estuda as instâncias psíquicas Id, Ego e Superego, sendo Id, sede das pulsões, fantasias, desejos, afetos, prazer, Ego, uma instância do aparelho psíquico que faz conexão com a realidade interna e externa, sendo ela consciente e inconsciente e o superego, como herdeiro do complexo de édipo e de castração, uma instância crítica, sede da moral e da culpa inconsciente, compreendendo o inconsciente, o consciente e o pré consciente. O conflito desse modelo apresenta-se através das suas representações psíquicas onde a angústia sentida pelo ego traz desprazer, o que o coloca em posição de defesa, fazendo com que a repressão atue e haja formação de sintomas. O sintoma é um representante do reprimido diante do Ego, que por via indireta permite a satisfação pulsional, que é uma satisfação substitutiva deformada e irreconhecível, porém, traz sofrimento, desprazer e angústia. Quando se faz a psicanálise, o indivíduo tem a oportunidade de ter um ego analisável e verificar como este se adapta aos diferentes níveis de conflito, como se manifesta frente aos mecanismos de defesa, podendo assim, olhar se esse ego é integrado, fragmentado e quais são os caminhos que a análise deve percorrer.

O complexo de édipo inicia tanto para a menina quanto para o menino por volta dos 4-5 anos, é vivido individualmente, isto é, todos passam por ele, porém cada um tem sua particularidade. O menino se apaixona pela mãe e vê o pai como seu rival, e deseja matá-lo para ficar com a mãe. Percebe que o pai é mais forte que ele, teme ser castrado pelo pai, então abandona a mãe, identifica-se com o pai e busca outra mulher que substitua a mãe. A menina na fase I se apaixona primeiro pela mãe, acredita que ela lhe dará um pênis, porém como isso não acontece, culpa a mãe por não ter lhe dado e acredita que a mãe sendo possuidora desse pai, logo possui um pênis, então começa o momento da rivalidade entre as duas e o início da fase II desse complexo, onde abandona o investimento pela mãe e passa esse para o pai, que lhe nega o amor, então identifica-se com a mãe e busca na maternidade a completude do falo.

Os investimentos de objeto são abandonados e substituídos por identificação. A autoridade parental introduzida no EU (EGO), forma o núcleo do SUPER EU (SUPER EGO), que empresta do pai a severidade, permanece a proibição do incesto e assegura o EU (EGO) contra o retorno dos investimentos do objeto.

A libido pertencente ao Complexo de Édipo será dessexualizada e sublimada na forma de identificação e partes inibidas quanto às suas metas e transformadas em moções de ternura. Também há a possibilidade de ocorrer intercorrências no Complexo de Édipo e consequentemente problemas identificatórios.

Deste modo, fica evidente que o núcleo do material reprimido está sexualidade infantil, que não pode ser levada à consciência, precisa ser recalcado, que é feito pelo SUPEREGO, que atua como instância crítica, como moral, censura, sendo herdeiro do Complexo de Édipo.

Assim, ocorre a dissolução do Complexo de Édipo e inicia o Período de Latência, onde o desenvolvimento sexual da criança fica interrompido.
Com o término do período de latência, as pulsões sexuais voltam a ter um destino e a maneira como a dissolução do complexo de édipo foi realizada, terá influência de como essas vão emergir.

É importante lembrar que o processos psíquicos são dominados pelo Princípio do Prazer, isto é, busca de diminuição da tensão de estímulos, busca de estabilidade. Assim, podemos dizer que o Princípio do Prazer está a serviço da Pulsão de Morte e que o Princípio do Prazer se identifica com o Princípio de Nirvana, porém não há como o princípio do nirvana trabalhar sem o princípio do prazer e sem o princípio da realidade, pois todos estão interligados. Ora um estabelece rebaixamento quantitativo de carga de estímulos, outro mudança qualitativa deles e outro o adiamento da descarga dos estímulos e aceitação temporária da tensão desprazeirosa.

Ao pensar em destinos pulsionais e dissolução do complexo de édipo, podemos pensar em algumas perversões, lembrando que para Freud, perversão é aquilo que foge da norma (pênis-vagina). Ex: masoquismo, onde o fenômeno psíquico de castração fica evidente, onde a pessoa deseja ser contida, amarrada, amordaçada, podendo chegar à agressões; fetichismo, onde menino nega que a mulher é castrada e por isso, cria objetos para substituí-lo.

Enfim, sexualidade é um ponto crucial da teoria Freudiana e o Complexo de Édipo é uma parte dela que nos dá acesso à alguns tópicos que nos faz compreender um pouquinho mais do desenvolvimento sexual do ser humano.