Por Priscilla M. S. Honorato -
Quem nunca ouviu aquela velha historinha dos três pequenos e travessos porquinhos, em que dois deles desejavam apenas brincar, sem se preocupar com as adversidades da vida? Esse conto, fez e faz parte de nossas vidas. Traz-nos a magia de viver uma grande e prazerosa brincadeira, a compreensão sobre a necessidade de se cumprir as obrigações exigidas pela vida e um amadurecimento saudável.
E o que dizer sobre o lobo? Será que ele deveria ser bonzinho? Crianças tem medo de lobo? Será que posso contar, com segurança, sobre um Lobo Mau que devora porquinhos indefesos? Muitas questões estão presentes numa simples história.
Pois bem, vamos compreender mais um pedacinho do mundo fantástico dos contos de fadas.
Os Três Porquinhos, conto original dos Irmãos Grimm, através de sua magia, vem envolver a criança em um mundo que para ela é real, levando-a a refletir sobre as vantagens de se vencer a preguiça, pois, se assim não for, perecerá. Percebe-se que no decorrer da trama, dois dos porquinhos desaparecem, mas tal fato não é visto pela criança como traumático, visto que esta percebe tal situação como um desprendimento das formas anteriores de sua existência, mudando seu estágio de vida e amadurecendo. Tais personagens representam a própria criança, que, espelhando-se neles, assemelhando-se às suas atitudes. À medida que a criança evolui, ela se identifica com o terceiro e mais velho porquinho, que, apresenta maior destreza em realizar suas atividades e maior capacidade de suportar o desejo incontrolável de brincar, em prol de um benefício vindouro. A criança é capaz de perceber uma evolução psíquica na medida em que sua identificação vai caminhando de porquinho para porquinho, de modo que ela venha a suportar a sedução do Lobo, que os tenta oferecendo nabos e maçãs.
Para compreendermos de forma clara o conceito de Freud sobre os princípios do funcionamento psíquico, Laplanche (2001) sintetizou dizendo que o princípio do Prazer está para o aumento das quantidades de excitação mediante o desejo de evitar o desprazer, que reduzir-se-á por meio do prazer. E, o Princípio da Realidade que trabalha na busca da felicidade não utilizando-se de caminhos curtos, adiando seu resultado em função das condições impostas pelo mundo exterior. O indivíduo, ao se encontrar em maior nível de amadurecimento, é capaz de suportar esta necessidade imediata de prazer, prolongando esse tempo de recompensa, suportando assim, as adversidades da vida.
No conto dos Três Porquinhos a criança é levada a tomar a decisão por conta própria, qual seja o caminho ela deseja seguir. Deste modo, ela consegue auxílio para solucionar suas questões sobre o que fazer com seu desejo de prazer imediato.
Onde se enquadra a maldade do lobo, e qual sua importância na história?
Vemos que depois de esforços infrutíferos, travados pelo Lobo, é que ele parte para a matança. Segundo a ilustração de Bettelheim ( 2014 p.64),
“O lobo, ao contrário, é obviamente um animal ruim, pois deseja destruir. A ruindade do lobo é algo que a criança reconhece dentro de si: desejo de devorar e sua consequência. Assim, o lobo é uma exteriorização, uma projeção da maldade da criança- e a história mostra como se pode lidar com isso construtivamente.”
Não obstante, torna-se claro a diferenciação que a história faz entre o comer (uma busca inteligente por comida) e o devorar (tudo o que se fizer presente), i.e., demonstrar à criança a necessidade de escolher seus atos, fazendo-a compreender que a reação instantânea do lobo não terá uma recompensa muito agradável.
A vitória do porquinho mais velho leva a criança a reflexão da importância de crescer e tomar decisões pautadas nas consequências que elas oferecem. O final é feliz e o lobo recebe o que merece, reforçando à criança a necessidade de agir com boas maneiras. Este processo permite que a criança extraia suas próprias conclusões, provendo um amadurecimento satisfatório e verdadeiro. Pois, dizer a ela como realizar este amadurecimento é substituir o seu cativeiro de imaturidade por um cativeiro de obediência.