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O complexo de Édipo revisitado: uma leitura de Násio

O complexo de Édipo revisitado: uma leitura de Násio

Por Terezinha Cavalcante Feitosa -

Este paper faz uma análise do Complexo de Édipo no menino de acordo com a concepção de Násio  (2007 p. 19-44).  As afirmações de autor (op.cit) sobre o Édipo no menino leva-nos a refletir tanto sobre nós quanto sobre aqueles que escutamos.  A reflexão sobre o tema instiga, durante a escuta do analisado, verificar como se deu o “afastamento” dos pais, ou seja, o processo de castração, posto que, se esse processo  for mal conduzido o sujeito poderá desenvolve determinado sintomas, e/ou dificuldades relacional tanto no que diz respeito ao aspecto afetivo quanto social, que na maioria das vezes os persegue durante toda a vida.

Nesse sentido, verifica-se que a relação das crianças com os pais, nessa fase, entre três quatro anos, é na verdade uma relação imaginária. O que ocorre na maioria das vezes é uma relação homossexual, isto é, a relação da criança consigo mesma, por meio da masturbação, que mesmo inconsciente descarrega suas aflições edipianas. Diante dessas circunstâncias torna-se necessário, ao escutar, ficar atento aos detalhes de uma narrativa, pois nela pode está contido o objeto cristalizado no inconsciente que passou pelo processo de sublimação! Como diz Násio “a experiência vivida do terremoto edipiano fica registrada no inconsciente da criança e perdura até o fim da vida como uma fantasia que definirá a identidade sexual do sujeito, determinará diversos traços de sua personalidade e fixará sua aptidão a gerir os conflitos afetivos. No caso de a criança ter experimentado, por ocasião da crise edipiana, um prazer precoce demais, intenso demais e inesperado demais, isto é, no caso de a experiência de um prazer excessivo ser traumática, a fantasia daí resultante seria a causa certa de uma futura neurose”.

Assim, pode-se imaginar uma criança desnuda cuja finalidade é exibir seu pênis, ou seja, mostrar que está com desejo de possuir a mãe bem como de ser possuído por ela.  Alguém de forma bastante grosseira pede para que a mesma ponha roupa, caso contrário, o cachorro pode comer, ele pode voar, e ainda pode ser decepado pela mãe ou pelo “homem do saco”.  Partindo dessa premissa podem-se compreender determinados comportamentos masculinos em relação aos relacionamentos seja ele afetivo ou social.

A leitura nos conduz ainda a reflexão do comportamento, ou seja, as atitudes adotadas pelos meninos em relação às mães, ou até mesmo amigas, namoradas dos pais quando estes são pais solteiros.   Recordo-me de um menino de quatro anos filho de pai solteiro. O pai, tinha uma namorada e contava orgulhoso o assedio do filho  a qual a criança chamava de tia. Quando este ia dormir na casa do pai, uma das primeiras coisas que o menino perguntava era se o pai ia buscar a titia.  Notava-se na fala do pai que a criança disputava a atenção da moça.  Por vezes, em forma de chantagem tais como: só vou comer quando a titia chegar, conta o pai entusiasmado. Quando a titia chegava, a criança costumava se esconder para que esta o encontrasse. Ao encontrá-lo “escondido” ele imediatamente pegava a mão da moça e convidava para sentar perto dele e assistir desenhos! Acariciava os cabelos e às vezes chegava a morder e correria sorrindo como se tivesse feito algo grandioso. Ao deitar, só dormia se a titia deitasse com ele, ou seja, no seu mundo de fantasia era como se fossem enamorados.

Nesse caso, presume-se que a namorada do pai substitui a mãe. O desejo do menino se manifesta nas atitudes em relação à moça que assume o papel de mãe nos dias em que este fica com o pai. É provável que ao pedir para que a moça assista desenhos infantis, acariciar os cabelos e até dar-lhe um beijo demorado na face seja um jogo de sedução para conquistá-lo, em outras palavras, ele está dizendo: eu desejo você e você pode me possuir.

Além desse fato, recordo-me de duas crianças da pré-escola entre 4 e 5 anos que se masturbavam durante as aulas, ao ponto da professora presenciar eles ejaculando. Em  principio a professora sentia-se constrangida, pois não sabia como lidar com a situação, ao mesmo tempo tinha receio de comunicar aos pais, uma vez que não sabia como abordar o tema. Sua atitude era do senso comum, isto é, de pensar que as crianças estivessem envolvidas com pornografias e/ou que os pais fossem pessoas com baixo valor moral. Como se sabe nenhuma das hipóteses são verdadeiras, mas apenas uma manifestação normal para crianças daquela idade.

Durante minhas escutas com homens analisados, pude perceber em um deles que o complexo de Édipo foi dolorido e muito mal resolvido. Pode-se visualizar a dor da castração tanto na fala quanto no olhar provocando comportamentos neuróticos ao ponto de sujeito ter ódio de se mesmo.  Diante disso, pode-se perceber a complexidade do comportamento sexual das pessoas, não seria insensato dizer que cada analisado é um mapa que deve ser decifrado em suas minúcias.

Bibliografia: NÁSIO, J. D. Édipo: o complexo do qual nenhuma criança escapa. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, 156p.