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As perversas chuvas de verão

As perversas chuvas de verão

Por Ale Esclapes - 

Donald Meltzer definiu de uma forma muito particular a perversão na psicanálise, e John Steiner seguindo seus passos fez uma excelente contribuição à psicanálise ao se inspirar em Bion. Esses três autores nos legaram uma nova interpretação do mito de Édipo – este mito seria menos sobre desejos que sobre verdades.

Todos na peça sabiam da profecia, todos a viram serem cumprida, mas até que a situação estivesse em uma situação insuportável, todos agiam “como se” ela não existisse. Será que Jocasta não sabia que estava destinada a casar com um homem mais novo que seria seu filho? Édipo não sabia que mataria seu pai? Sim, todos sabiam, o que não impediu o destino de se cumprir. Mas todos agiram “como se” não soubessem. E essa seria para esses autores, a forma básica do pensar perverso – agir “como se” a verdade não existisse.

E o que vemos hoje em relação às mortes com as chuvas é pura perversão.

O governo age como se não fosse sua responsabilidade fazer cumprir a lei de ocupação de solo. Como se não fosse sua obrigação retirar as famílias que invadem áreas de risco, não importando sua classe social. Como se não tivesse feito promessas na inundação do ano passado, e do outro, do outro, etc ...

A população age como se não soubesse que construir casas ao lado de córregos e rios não fosse perigoso. Se espantam quando rios transbordam, porém jogam lixo indiscriminadamente em qualquer local, como se esse lixo não retornasse na forma de inundações e doenças para os mesmos. Constroem casas constantemente em locais de risco como se isso não fosse de sua responsabilidade.

E no final de tudo termina como no mito de Édipo. O governo nega tudo até não ter mais alternativa, a população se coloca no papel de vítima como o povo em Tebas. Por fim todos somos devorados pela Esfinge. E daqui algum tempo, tocaremos nossas vidas como se nada disso tivesse acontecido e não fosse acontecer novamente.