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Jacques-Marie Émile Lacan - Vida e obra

Jacques-Marie Émile Lacan - Vida e obra

Por Ale Esclapes - 

Foi um psicanalista francês. Formado em Medicina, passou da neurologia à Psiquiatria, tendo sido aluno de Gatian de Clérambault. Teve contato com a psicanálise através do surrealismo e, a partir de 1951, afirmando que os pós-freudianos haviam se desviado do sentido da obra freudiana, propõe um retorno a Freud.

Para isso, utiliza-se da linguística de Saussure (e posteriormente de Jakobson e Benveniste) e da antropologia estrutural de Lévi-Strauss, tornando-se importante figura do Estruturalismo.

Posteriormente encaminha-se para a Lógica e para a Topologia. Seu ensino é primordialmente oral, dando-se através de seminários e conferências. Em 1966 foi publicada uma coletânea de 34 artigos e conferências, os Écrits (Escritos). A partir de 1973 inicia-se a publicação de seus 26 seminários, sob o título Le Séminaire (O Seminário).


Cronologia:

- 1901: Nasce em Paris, no dia 13 de abril, Jacques-Marie Émile Lacan, primeiro filho de uma próspera família católica.

- 1907: Nascimento de seu irmão, Marc-Marie, que mais tarde entrará para a ordem dos beneditinos como o nome de Marc-François.

- 1919: Matricula-se na faculdade de medicina. Paralelamente estuda literatura e filosofia, aproximando-se dos surrealistas.

- 1928: Trabalha como interno da Enfermaria Especial para alienados da Chefatura de Polícia, dirigida por Gaëtan Gatian Clérambault, que mais tarde reconhecerá como seu único mestre na psiquiatria.

- 1931: Após examinar Marguerite Pantaine, que havia tentado assassinar a atriz Huguette Duflos, escreve sobre o episódio (conhecido como "Caso Aimée") uma monografia que está na gênese de sua tese de doutorado.

- 1932: Inicia sua análise com Rudolf Loewenstein. Defende a sua tese de doutorado, Da psicose paranoica em suas relações com a personalidade.

- 1934: Casa-se com Marie-Louise Blondin, com quem terá três filhos. Caroline (1937), Thibault (1939) e Sybille (1940).

- 1936: Sua comunicação sobre o estádio do espelho, durante congresso da Associação Internacional de Psicanálise (IPA) em Marienbad, é interrompida no meio por Ernest Jones, discípulo e biógrafo de Freud.

- 1938: Inicia relações com Sylvia Bataille, ex-mulher do escritor e filósofo Georges Bataille. Torna-se membro da Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP).

- 1941: Separa-se de Marie-Louise. Nasce Judith Sophie, filha de Lacan com Sylvia.

1951: Sua técnica de sessões curtas gera controvérsias na SPP. Dá início aos Seminários, uma série de apresentações orais que constituirão o núcleo de seu trabalho teórico.

- 1953: Em meio à crise na SPP, faz conferências fundamentais como "O mito individual do neurótico" (em que utiliza pela primeira vez a expressão Nome do Pai), "O real, o simbólico e o imaginário" (que coloca suas teorias sob o signo do "retorno a Freud") e "Função e campo da palavra e da linguagem em psicanálise" (pronunciada em Roma). Deixa a SPP junto com Daniel Lagache, Françoise Dolto e outros 40 analistas. Funda a Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP). Realiza o seminário Os escritos técnicos de Freud, primeiro a ser registrado por estenotipista, possibilitando posterior publicação.

- 1963: A IPA admite a filiação da SFP.

- 1964: Lacan funda a Escola Freudiana de Paris (EFP) com antigos alunos como Françoise Dolto, Maud e Octave Mannoni, Serge Leclaire, Moustapha Safouan e François Perrier.

- 1966: Publicação de Escritos e criação da coleção Campo Freudiano, dirigida por Lacan.

- 1967: Propõe a criação do "passe", dispositivo regulador da formação do analista.

- 1968: Lançamento da revista Scilicet, do Campo Freudiano.

- 1973: Publicação da transcrição do Seminário XI, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise, realizado em 1964. A partir daí, os seminários passam a ser editados segundo esse procedimento. Caroline morre num acidente de automóvel.

1975: Lançamento de Ornicar?, boletim do Campo Freudiano.

- 1980: Anuncia a dissolução da EFP e funda em outubro a Escola da Causa Freudiana.

- 1981: Morre em Paris no dia 09 de Setembro.

Pensamento:

Sua primeira intervenção na Psicanálise é para situar o Eu como instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho. O Eu é situado no registro do Imaginário, juntamente com fenômenos como amor, ódio, agressividade. É o lugar das identificações e das relações duais. Distingue-se do Sujeito do Inconsciente, instância simbólica. Lacan reafirma, então, a divisão do sujeito, pois o Inconsciente seria autônomo com relação ao Eu. E é no registro do Inconsciente que deveríamos situar a ação da Psicanálise.

Esse registro é o do Simbólico, é o campo da linguagem, do significante. Lévi-Strauss afirmava que "os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado”, no que é seguido por Lacan. Marca-se aqui a autonomia da função simbólica. Este é o Grande Outro que antecede o sujeito, que só se constitui através deste - "o inconsciente é o discurso do Outro", "o desejo é o desejo do Outro".

O campo de ação da psicanálise situa-se então na fala, onde o inconsciente se manifesta, através de atos falhos, esquecimentos, chistes e do relato dos sonhos, enfim, naqueles fenômenos que Lacan nomeia como "formações do inconsciente". A isto se refere o aforismo lacaniano "o inconsciente é estruturado como uma linguagem". O Simbólico é o registro em que se marca a ligação do Desejo com a Lei e a Falta, através do Complexo de Castração, operador do Complexo de Édipo. Para Lacan, "a lei e o desejo recalcado são uma só e a mesma coisa". Lacan pensa a lei a partir de Lévi-Strauss, ou seja, da interdição do incesto que possibilita a circulação do maior dos bens simbólicos, as mulheres. O desejo é uma falta-a-ser metaforizada na interdição edipiana, a falta possibilitando a deriva do desejo, desejo enquanto metonímia. Lacan articula neste processo dois grandes conceitos, o Nome-do-Pai e o Falo. Para operar com este campo, cria seus Matemas. É na década de 1970 que Lacan dará cada vez mais prioridade ao registro do Real. Em sua tópica de três registros, Real, Simbólico e Imaginário, RSI, ao Real cabe aquilo que resiste a simbolização, "o real é o impossível", "não cessa de não se inscrever". Seu pensamento sobre o Real deriva primeiramente de três fontes: a ciência do real, de Meyerson, da Heterologia, de Bataille, e do conceito de realidade psíquica, de Freud.

O Real toca naquilo que no sujeito é o "improdutivo", resto inassimilável, sua "parte maldita", o gozo, já que é "aquilo que não serve para nada". Na tentativa de fazer a psicanálise operar com este registro, Lacan envereda pela Topologia, pelo Nó Borromeano, revalorizando a escrita, constrói uma Lógica da Sexualização ("não há relação sexual", "A Mulher não existe"). Se grande parte de sua obra foi marcada pelo signo de um retorno a Freud, Lacan considera o Real, junto com o Objeto a ("objeto ausente"), suas criações.