Por Ale Esclapes -
Estava conversando com outro paciente enquanto esperava meu horário no dentista quando ele me mostrou uma reportagem de uma revista sobre adolescência e disse que estava feliz por ter saído da mesma. “Foi uma época muito complicada da minha vida, essa tal adolescência.”
Fiquei curioso e perguntei o porquê, o que havia acontecido de tão complicado. “Meus hormônios estavam a mil e eu queria transar todos os dias, várias vezes ao dia. Fiquei agressivo e comecei a brigar muito com minha mãe. Ela me enxia só por que eu chegava bêbado de vez em quando, mas graças a Deus isso passou”.
Interessante essa visão do que seja a adolescência – uma questão meramente orgânica. Tudo relacionado a hormônios, sexo... Perguntando um pouco mais sobre o desfecho dessa adolescência descubro que ele está na terceira tentativa de faculdade, mas já possui independência – mora só e bem longe de casa. Só um detalhe no meio disso tudo - é sustentado pela mãe, que paga todas as contas.
Acho um pouco questionável essa visão de adolescência baseada em hormônios. Sinceramente prefiro uma baseada em responsabilidade. Winnicott nos ensina que temos uma trajetória da dependência à independência, logo, creio que a adolescência passa quando podemos pagar nossas contas com o fruto do nosso trabalho. Não creio que exista liberdade sem responsabilidade, e isso passa por nossa capacidade de conquistar nossa independência emocional e financeira. Fico com um pé atrás com essa apropriação fisiológica do ser humano que exclui o sujeito com suas responsabilidades perante o outro e a si mesmo. Enfim estou ficando velho diante dessa mudança de valores...