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Uma mão lava a outra

Uma mão lava a outra

Por  Carlos Guilherme M. Teixeira - 

Embora tenham origens distintas, a psicanálise e a neurociência compartilham um objetivo comum: compreender a mente humana. A psicanálise, fundada por Sigmund Freud, foca na exploração do inconsciente, dos processos internos e dos conflitos psicológicos, utilizando métodos como a livre associação e a análise dos sonhos para investigar as profundezas da psique.

A interseção entre essas duas disciplinas pode ser especialmente proveitosa. A neurociência oferece evidências empíricas que podem apoiar ou desafiar teorias psicanalíticas. Por exemplo, estudos de neuroimagem identificaram áreas do cérebro relacionadas a emoções e memórias reprimidas, corroborando conceitos freudianos sobre o inconsciente e a repressão. Além disso, o entendimento neurocientífico dos processos de memória e aprendizagem pode enriquecer a interpretação psicanalítica de traumas e do desenvolvimento psicossexual.

Por sua vez, a psicanálise proporciona à neurociência um arcabouço teórico robusto para interpretar dados empíricos de uma forma que considera a subjetividade e a complexidade das experiências humanas. A abordagem psicanalítica pode ajudar a contextualizar os achados neurocientíficos dentro da narrativa pessoal e histórica do indivíduo, fornecendo uma compreensão mais holística da mente.

Pesquisadores contemporâneos têm se empenhado em integrar esses campos, propondo modelos que combinam os insights da neurociência com as teorias psicanalíticas. Um exemplo disso é a neuropsicanálise, uma disciplina emergente que busca unificar a abordagem qualitativa da psicanálise com a abordagem quantitativa da neurociência. Essa integração tem o potencial de revolucionar tanto a prática clínica quanto a pesquisa teórica, promovendo um entendimento mais completo e interdisciplinar da mente humana.

Em resumo, a relação entre psicanálise e neurociência é uma via de mão dupla, onde cada disciplina pode enriquecer e complementar a outra. A psicanálise oferece à neurociência um quadro teórico para interpretar dados complexos, enquanto a neurociência fornece à psicanálise evidências empíricas para validar e refinar suas teorias. Juntas, essas disciplinas podem aprofundar nosso entendimento da mente humana de maneiras que seriam impossíveis de alcançar isoladamente.

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Nesta segunda parte estão as citações que corroboram com o texto acima.

“Sempre existiram, no meio psicanalítico, aqueles que se interessaram em buscar fazer correlações entre a neurociência e os conhecimentos adquiridos na investigação psicanalítica. Com isso, puderam ser mostradas as contribuições que a psicanálise poderia dar para um enriquecimento mútuo nas investigações neuropsicológicas e traduzir em termos psicanalíticos as conquistas neurocientíficas (SOUSSUMI, 2001).”

“O desenvolvimento da neurociência começa a tornar realidade o vaticínio de Freud de que no futuro as hipóteses psicanalíticas seriam explicadas pela biologia (ANDRADE, 2003).”

“As aquisições recentes da neurobiologia indicam que a neuroplasticidade pode ser um dos caminhos para a reconciliação entre a psicanálise e a neurociência. Dentre os achados neurocientíficos no âmbito do psiquismo, destaca-se a ação da relação afetiva sobre circuitos neurais de bebês, os quais podem sofrer atrofia cerebral se cuidados inadequadamente. Também há evidências de que métodos psicológicos podem promover modificações no cérebro. Este ponto é de especial interesse para a psicanálise, cujo método se baseia numa relação afetiva (transferência) (ANDRADE, 2003).”

“Recentes avanços no estudo interdisciplinar da emoção também indicam possibilidades de uma aproximação bem-sucedida entre a psicanálise e a neurociência. O conhecimento atual dos mecanismos psicobiológicos, por meio dos quais, por exemplo, o hemisfério direito processa informações sociais e emocionais em níveis subconscientes e mediante os quais o córtex orbito frontal regula o afeto e a motivação, permite uma compreensão mais profunda da “Estrutura Psíquica” formulada por Freud (SCHORE, 1997 apud LIMA, 2009).”

 “A descrição tradicional de inconsciência como concebida por Freud é de significância histórica e não somente ganhou ampla aceitação, mas também atraiu muito criticismo. Entretanto, hoje se sabe que o modo fundamental de processamento das funções cerebrais é de ordem inconsciente. Partes do processamento simbólico-declarativo e do processamento de funções emocionais do cérebro são permanentemente inconscientes. Outras partes desses processos são conscientes ou podem ser trazidas à consciência ou, alternativamente, podem ser excluídas da consciência. Ressaltando o papel essencial dos processos psíquicos inconscientes, Winograd et al (2005) citam como exemplo a verificação de que o comportamento de pacientes incapazes de se lembrar de acontecimentos passados, por causa de lesões em estruturas cerebrais responsáveis pelo armazenamento de memória, é claramente influenciado pelos fatos “esquecidos”. Esses dados corroboram a teoria de Freud, segundo a qual o inconsciente domina a maior parte dos processos psicofisiológicos. Segundo estudos de Lima (2010) a neurociência também demonstrou que as estruturas do cérebro essenciais para a formação de memórias conscientes não são funcionais durante os dois primeiros anos de vida, explicando o que Freud identificou como “amnésia infantil”. Assim como Freud hipotetizou, não poder trazer à luz da consciência a maior parte de nossas memórias de infância não significa que elas não tenham se inscrito em nós nem que não afetem nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos atuais. As experiências da primeira infância, sobretudo entre mãe e bebê, influenciam o padrão das conexões cerebrais e, correlativamente, o padrão de nossos comportamentos e pensamentos. A vasta contribuição de Freud relativamente à função dos sonhos foi em grande parte ignorada pela ciência, pela falta de um método quantitativo e de hipóteses testáveis. Felizmente, os avanços da neurociência convergiram nos últimos anos para dois importantes insights psicanalíticos. O primeiro consiste na observação concreta de que os sonhos, frequentemente, contêm elementos da experiência do dia anterior, denominados de “restos do dia”. O segundo é o reconhecimento de que estes “restos” incluem atividades mnemônicas e cognitivas da vigília, persistindo nos sonhos na medida de sua importância para o sonhador. Assim, ainda que de maneira difusa, a psicanálise prevê que a consolidação de memórias e o aprendizado sejam importantes funções oníricas (SIDARTA, 2003).”

“Segundo Freud, os sonhos constituem “uma realização (disfarçada) de um desejo (reprimido)”. A hipótese de que o sistema dopaminérgico mesolímbico- mesocortical, INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA 13 relacionado aos estados motivacionais, é essencial para a formação dos sonhos também oferece algum respaldo à teoria freudiana. Assim, as emoções parecem exercer um papel fundamental na formação dos sonhos (CHENIAUX, 2006).”

“Estudos experimentais recentes trazem à tona duas grandes contribuições de Freud aos conhecimentos atuais sobre a supressão e/ou inibição de memórias. Ambos os processos, largamente estudados por ele, a repressão e a extinção, já têm boa parte de seus mecanismos conhecidos. Essa inibição ou supressão é inerente à nossa natureza. Por um lado, precisamos impedir o acesso à consciência de muitas memórias, porque sua evocação seria prejudicial ou insuportável.

Por outro, precisamos fazê-lo porque devemos recordar ou aprender outras memórias (IZQUIERDO, 2006). Em seu estudo, Izquierdo cita achados interessantes de outros pesquisadores (Anderson ET al, 2004): no momento em que o cérebro exclui da consciência a expressão de memórias indesejadas, ocorrem:

a) inibição da evocação dessas memórias (repressão);
b) ativação do córtex pré-frontal anterolateral (envolvido na memória de trabalho);
c) inibição da atividade do hipocampo. O hipocampo é o “diretor” da “orquestra” de áreas corticais envolvidas na evocação de memórias.
O estudo desses cientistas pretendeu explicar casos de bloqueio de memória especialmente nas situações de abusos sexuais sofridos por crianças que não se lembram dos abusos quando se tornam adultas. Sua existência foi percebida por meio da utilização de imagens cerebrais que mostravam os sistemas neurológicos participantes do bloqueio da evocação de memórias indesejáveis. Esses dados corroboram a hipótese de Freud sobre o processo de “recalque”. Analisando todos esses dados, Lima (2010) considera que as visões psicanalíticas e neurocientífica podem ser complementares e mutuamente enriquecedoras. Tomados em conjunto, esses achados indicam não só a viabilidade, mas a necessidade de reavaliar o legado psicanalítico de Freud, com uma diferente abordagem.”

“Sigmund Freud (1895) - estudos funcionais do inconsciente. Entende que os processos físicos não poderiam ocorrer na ausência dos processos fisiológicos, mas que os físicos precediam ao fisiológico.”